João Serrano pergunta se alguém se lembra de quem foi o político que fez as seguintes afirmações:
"Comigo não haverá uma terceira ponte sobre o Tejo enquanto houver listas de espera."
"Comigo não haverá aeroporto de OTA enquanto existirem criancinhas à espera de serem operadas."
"Comigo não haverá TGV enquanto os velhinhos receberem pensões miseráveis."
"O Euro 2004 é uma grande desgraça herdada do Governo Socialista."
"Eu vou baixar os impostos."
Desconfio que é o dito político é o mesmo que Santana Castilho desanca - e bem - no Público de hoje.
PC
Porque nem só de pão vive o Homo Sapiens...
sábado, dezembro 13, 2003
quinta-feira, dezembro 04, 2003
Frio no Ebro
Um a cinco graus em SaragoÇa, sem acentos no computador e com trabalho pela frente. O Plano Hidrologico espanhol, que nos anos 80 tantas guerrinhas nos valeu contra o pais vizinho (resolvidas apenas quando Portugal aceitou deixar de chatear Espanha a troco de pressoes desta na UE a favor do financiamento de Alqueva), motiva agora dissensoes dentro do mesmo. Algo contarei no regresso a Madrid. Com meio grauzito a mais ja me contentava...
PC
PC
segunda-feira, dezembro 01, 2003
Reflexões de fim de tarde, num passeio à beira mar
Descalço, calçado, nú ou vestido. Sou eu e as minhas pegadas. Os restos de mim, a impressão digital que atesta a minha presença, mesmo “onde a mão do homem nunca pôs o pé”, como escreveu Hergé. “Hello, Houston. O Águia alunou. Um pequeno passo para o Homem, mas um passo gigantesco para a Humanidade” . Julho de 1968. Dezembro de 2003. Afinal, qualquer areia de fim de tarde pode ser a Lua e, por conseguinte, a nossa conquista pessoal...
MC
MC
Península
Hoje não tenho feriado; é o que dá trabalhar em Madrid. Ainda assim, vou comemorar. Como bom iberista, comemorarei o sorteio que colocou a Espanha no nosso grupo do Euro. Faço mesmo votos para que joguemos duas-vezes-duas com nuestros hermanos, que é como quem diz que, depois da fase de grupos, gostava que nos encontrássemos na final.
PC
PC
segunda-feira, novembro 24, 2003
Rest in peace, macacão.
Davam-lhe três meses de vida, e disso demos nota, mas foram só dois. Floquet de Neu, o gorila albino do zoo de Barcelona, morreu às 6h40 de hoje, vítima de cancro da pele. Tinha 40 anos, media 1,63 m e pesava 180 quilos. Agora vão mesmo fazer-lhe uma estátua e dar o seu nome a uma rua. E criar um arquivo Floquet, um prémio Floquet de investigação, etc. O mono era mesmo um símbolo da cidade, de onde, por coincidência, regressei hoje (mas juro que não tenho nada a ver com o assunto). Infelizmente, a sua prole de 21 filhos e quatro netos não inclui nenhum albino. Nem cruzando-o com as filhas conseguiram que a maravilha genética se repetisse. RIP, Floquet...
PC
PC
terça-feira, novembro 18, 2003
Atira-te à piscina e diz que te empurraram
Depois de cinco dias de silêncio, um mergulho. No filme mais recente de François Ozon, com divinas Charlotte Rampling e Ludivine Sagnier. Beleza transgeracional, programa para pais e filhos. Depois de oito mulheres, agora duas. Chegam perfeitamente. Swimming Pool é um policial? É a história de como nasce um policial? É um belíssimo filme, inteligente, divertido e sensível. Ainda por cima ouve-se bom francês e bom inglês. A não perder, até porque já só vai no Alvaláxia e no Monumental. Gracias, Paulo Branco!
PC
PS: Cá vai mais um linque.
PC
PS: Cá vai mais um linque.
quinta-feira, novembro 13, 2003
Deus morreu. E Paul McCartney?
Ninguém o diria ao vê-lo em tão boa companhia (cof cof), mas há uns tipos que acreditam que o Paul McCartney morreu há quase quarenta anos. A primeira vez que ouvi falar desta história foi aqui há uns meses. Uma rádio qualquer bombardeou-nos um fim-de-semana inteiro com provas, contraprovas e opiniões de peritos. Há dias, ao ouvir o Abbey Road, lembrei-me disto: é que uma das supostas "provas" da morte do Paul, para que vejam o calibre da coisa, é que ele é o único que atravessa a rua descalço na foto do disco. Mas há muitas mais: troços de letras, mensagens subliminares, logotipos de álbuns, etc. O Google indica 10.700 sites sobre isto. Talvez o Bernardo queira investigar, parece coisa para ele.
PC
PC
segunda-feira, novembro 10, 2003
Gastão strikes back
"Se tivesse medo comprava um cão, mas, como sabem, já tenho um e por isso não tenho medo"
Ferro Rodrigues, na Comissão Nacional do PS, sábado passado
Ferro Rodrigues, na Comissão Nacional do PS, sábado passado
sábado, novembro 08, 2003
Um abraço ao Pedro
Para o Pedro, resistente em Madrid: não é que em Lisboa esteja um dia particularmente bonito, mas Lisboa é sempre Lisboa, como dizia o poeta, cantava o fadista e sublinhava Monsieur de La Palice. E sabe bem viver aqui, mesmo sabendo que amanhã começam oficialmente as obras do "Inferno das Amoreiras", com o túnel fechado ao trânsito por 15 meses e o que demais se adivinha.
A auto-estrada que vai de Seia à Torre, na Serra da Estrela, deve estar já seguramente programada, bem como o 3º Aeroporto Internacional de Lisboa - a avaliar pelos nomes que devem estar na calha para baptizar o próximo, seráo necessários vários - se já existe um "Sá Carneiro" e uma auto-fundação "Mário Soares", um auto-Estádio "Vieira de Carvalho" e, até, uma auto-Biblioteca "Marcello Rebelo de Sousa", coitados de todos os Guterres, Durões e outros que tais, sem sequer um chafariz que consagre o seu nome para a posteridade... E, estou certo, se conseguimos continuar a manter os critérios de convergência e deficits abaixo dos 3% (na DSM IV, da Classificação das Doencas da Saúde Mental, este pormenor deve entrar no capítulo das "neurosses obsessivas"...), que mais e mais projectos de betão, como as gengivas do anunciante de uma pasta dentrífica, se perfilam nos horizontes.
Quanto às pessoas, enfim, são apenas pessoas - o que valem elas, na sua passagem efémera por este mundo, comparativamente com o Futuro... "porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim"? Meu caro poeta, provavelmente a resposta é: porque são néscias ou ignorantes, porque não se mexem nem protestam, porque são más consumidoras, porque têm uma ideia da qualidade que é, ela própria, "abaixo de cão" e porque votam mal... "Batem leve, levemente", mas se calhar deviam dar com um bocadinho mais de força!
MC
A auto-estrada que vai de Seia à Torre, na Serra da Estrela, deve estar já seguramente programada, bem como o 3º Aeroporto Internacional de Lisboa - a avaliar pelos nomes que devem estar na calha para baptizar o próximo, seráo necessários vários - se já existe um "Sá Carneiro" e uma auto-fundação "Mário Soares", um auto-Estádio "Vieira de Carvalho" e, até, uma auto-Biblioteca "Marcello Rebelo de Sousa", coitados de todos os Guterres, Durões e outros que tais, sem sequer um chafariz que consagre o seu nome para a posteridade... E, estou certo, se conseguimos continuar a manter os critérios de convergência e deficits abaixo dos 3% (na DSM IV, da Classificação das Doencas da Saúde Mental, este pormenor deve entrar no capítulo das "neurosses obsessivas"...), que mais e mais projectos de betão, como as gengivas do anunciante de uma pasta dentrífica, se perfilam nos horizontes.
Quanto às pessoas, enfim, são apenas pessoas - o que valem elas, na sua passagem efémera por este mundo, comparativamente com o Futuro... "porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim"? Meu caro poeta, provavelmente a resposta é: porque são néscias ou ignorantes, porque não se mexem nem protestam, porque são más consumidoras, porque têm uma ideia da qualidade que é, ela própria, "abaixo de cão" e porque votam mal... "Batem leve, levemente", mas se calhar deviam dar com um bocadinho mais de força!
MC
The rain in Spain
Este fim-de-semana são as festas de Santo Estêvão. Queria estar na ilha do Baleal e com sol. Estou em Madrid e com chuva. Que gaita. Sabem que mais, vou ao teatro. Mas em francês, em sinal de protesto com o clima que nuestros hermanos me proporcionam. E viva a Ibéria, que hoje se reune em cimeira na Foz do Mondego das lágrimas. Para que Durão ratifique o traçado do TGV que Aznar decidiu há meses, enquanto o Governo luso suspendia (sem alternativa) os planos dos seus antercessores. Anyway, é para ficarmos contentes. Lisboa-Madrid em 3 horas em 2009. O que eu não dava por já ter o alta-velocidade ao dispor... até ia às festas da ilha!
PC
PC
sexta-feira, novembro 07, 2003
Um linque da casa
Nasceu esta semana o blogue arre-burro. É um linque da casa porque é coordenado pelo MC. É dedicado à mais linda praia da terra portuguesa, como diria Raul Brandão (n'Os Pescadores). Que saudades, desde domingo passado...
PC
PC
quinta-feira, novembro 06, 2003
Chapelada literária
para a Ficções, revista de contos dirigida por Luísa Costa Gomes e publicada trimestralmente. O nº8 saíu em Outubro e traz Abelaira, Ortigão, Doris Lessing, entre outros. Comprei-o numa ida a Lisboa e, até ver, perdi-o antes da volta (o que é uma grande gaita). Como tenho sempre as leituras atrasadas, estou agora com o número extra da Ficções que saíu este Verão, dedicado ao conto humorístico. Fiquei a conhecer Deszo Kosztolanyi, Ring Lardner e James Thurber. E revisitei Saki, O. Henry, Alexandre O'Neill e Boris Vian. Atenção: aceitam colaborações espontâneas. E estão a organizar uma oficina de escrita narrativa. Para os amantes do género (estou com o dedo no ar), a Ficções é indispensável.
PC
PC
quarta-feira, novembro 05, 2003
Música para os meus ouvidos
Ó JPH, essa de meter a Mísia, a Maria João e a Mafalda Veiga tudo no mesmo saco, deixa que te diga... e que a dar o benefício da dúvida a alguma (se bem interpreto o teu "enfim...") seja logo a jazzeira, também me suscita as maiores reservas. Mísia é claramente superior à cabrinha montesa Veiga e à cacarejante Maria João - e atenção que reconheço à primeira algumas canções boas e da segunda gosto durante uns minutinhos.
PC
PC
terça-feira, novembro 04, 2003
Back to business
Não posso sair do país vizinho, que o príncipe arranja logo noiva. Diz a malta do GF que a mjo vem até cá para matá-la. Eu fico-me por uma republicana chapelada à Casa Real, que conseguiu manter em relação a este namoro uma discrição inacreditável nos tempos que correm. Entre nuestros hermanos, ninguém desconfiava; ainda há pouco tempo saíram umas fotos do Felipe com amig@s numa discoteca da moda e da Letizia nem pio. Ainda bem, pelos dois, deixem-nos em paz. Podiam mesmo fazer-lhes o enorme favor de proclamar a República e livrá-los das aborrecidíssimas funções que os esperam. Só não acontece porque os espanhóis são em maioritariamente republicanos no plano dos princípios, mas esmagadoramente juancarlistas quando toca à prática. Isso, as circunstâncias da transição democrática e o bom senso do rei explicam o enorme apoio que tem a monarquia por estas bandas e a falta de massa crítica dos movimentos republicanos.
PC
PS: Subscrevo esta posta do JPH. Ah, e foi muito bom vê-lo, e ao resto do pessoal.
PC
PS: Subscrevo esta posta do JPH. Ah, e foi muito bom vê-lo, e ao resto do pessoal.
sábado, novembro 01, 2003
Sábado intenso
com o Pão por Deus, as broas, os primos, os doces, a terra. Quarta, quinta e sexta de silêncio bloguístico, para matar saudades do cantinho à beira-mar plantado.
PC
PC
terça-feira, outubro 28, 2003
Terça-feira sofrida
sem Feira da Ladra nem raparigas a descer escada nenhuma a quatro a quatro, nem sequer ao pé-coxinho. Hoje tive de escrever uma notícia de economia. Socorro! Só mesmo ao som do Abrunhosa e com várias visitas ao Palavras da Tribo, onde andei a trocar postas com a Maria Poppe e comentários com a Isabel Ramos. A Maria, além de uma grande amiga, é irmã do António Poppe, que na quinta-feira dá um recital de poesia na Livraria Eterno Retorno, no Bairro mais Alto do Mundo. É às 22h e vou lá estar. Porque já estive doutras vezes, e há poucas pessoas que digam poesia como o Tó. E porque tenho umas saudades loucas da gente da Tribo.
PC
PC
segunda-feira, outubro 27, 2003
Segunda-feira mitigada
pelo aniversário do meu companheiro de blogue (e pai, for the matter) e porque tenho metade do Mégalopolis de Herbert Pagani para ouvir quando chegar a casa. A primeira metade tomei-a ontem como vacina para a depressão pós-fim-de-semana. Agravada pela vitória do Partido Popular nas eleições para o governo da Comunidade de Madrid. Quero Sábado, depressa!
PC
PC
quarta-feira, outubro 22, 2003
Catarina
O que se passou algures, num pequeno país chamado Portugal, em que a Catarina, de 3 anos, foi selvaticamente espancada, queimada com cigarros e batida, até morrer nos braços da polícia, mostra como algumas pessoas – políticos, profissionais de saúde, jornalistas, etc -, deveriam ter mais respeito quando perdem tanto tempo a falar de porcarias. Os abusos são, em 95% dos casos, cometidos em casa. As crianças abusadas sofrem perigo de morte, se não houver intervenção. Os abusadores têm que ser afastados e tratados antes de voltar a ter contacto com as crianças. Fartamo-nos de dizer isto, desde há mais de vinte anos. O que é que o senhor doutor Ferro Rodrigues e o Gastão têm a dizer sobre isto? Também irão fazer uma festa na Assembleia? A Catarina não era uma “presa pseudo-política”. Era uma criança de 3 anos, morta depois de barbaramente torturada, repetida e sadicamente, como o fazia a PIDE, a Stasi, os esbirros de Saddam, da Indonésia ou de Sharom. Soube disso aqui em Praga, pela net. E por uma jornalista do DN, extremamente comovida, que me telefonou. Assim como foram todos a correr para Castelo de Paiva, bem faziam em reservar um minuto de silêncio na AR. Para que não continuem a interessar-se só pelo que lhes interessa, em termos pessoais, de lobbies e de interesses de grupo. Ai, que vontade de dizer “porra!”.
MC
MC
Et plus...
E “La chanson de Paul”, “Sarah”, “Le petit garçon”, “Les loups”, “L´absence”… plus rien a dire ! Talvez devêssemos prestar um bocadinho mais de atenção, novamente, aos autores franceses, à cultura francesa, à língua francesa. Sem desprimor para os excelentes autores ingleses, há línguas no mundo (e na Europa) que suplantam o pragmatismo e o universalismo british. “Ce soir, mon amour…” e não é preciso dizer mais! Com Jacques Brel, Georges Brassens, Georges Moustaki, Edith Piaf, Moulodji, Barbara, Serge Reggiani, Patrick Bruel, Patricia Kaas, Gilbert Bécaud, Charles Aznavour, Salvatore Adamo, Leo Ferré, Boris Vian, Jean Ferrat, Céline Dion, Charles Trenet, Jacques Dutronc, Marie Laforet, Mireille Mathieu, Sylvie Vartan, Yves Montand, Serge Gainsbourg e o sonho da nossa adolescência - Françoise Hardy. Querem mais razões?
MC
MC
As voltas da chanson
Em Praga, com 3 graus negativos e chuva, a ouvir vezes sem conta. “La Dame Blanche”, com Georges Moustaki e Barbara “nos protagonistas”... ou “Ce soir mon amour”, do grande Reggiani que, em plena terceira (quarta?) idade lançou mais um disco. Ah, grande Serge. Outra chapelada nos que pensam que os neurónios se fundem com o passar dos anos, ou que a sabedoria dos velhos pode ser substituída por uma saltada à Internet. Força neles, compagnon de route. Velhos são os trapos!
MC
MC
Malaio que não se presta...
Porventura ninguém terá reparado... mas eu vi, na BBC, em Praga, capital da República Checa, que dará para um texto maior um dia destes.
Mas, repito, porventura escapou dos vossos olhares o discurso do presidente da Malásia, na reunião que os países asiáticos tiveram com George W. Bush. Não sei se o homem é de direita ou de esquerda, se é um democrata de gema ou um ditadorzeco encapotado. Mas gostei do que disse, com um sorriso oriental, pleno de simpatia e de ambiguidade: “Mr President. We are ready to be exploited... but in a fair way, please”.
G´anda chapelada!
MC
Mas, repito, porventura escapou dos vossos olhares o discurso do presidente da Malásia, na reunião que os países asiáticos tiveram com George W. Bush. Não sei se o homem é de direita ou de esquerda, se é um democrata de gema ou um ditadorzeco encapotado. Mas gostei do que disse, com um sorriso oriental, pleno de simpatia e de ambiguidade: “Mr President. We are ready to be exploited... but in a fair way, please”.
G´anda chapelada!
MC
terça-feira, outubro 21, 2003
"Cruzes!",
diz o canhoto PC ao ver o novo grafismo do blogue de J e N. Está mais bonito que dantes e continua interessante e divertido. Além de que alivia já não dizerem que estão no hospital. Chapelada prós canhotos, já!
Imprensa estrangeira II
Parece que afinal o Governo já não retira a publicidade da Time. Haja bom senso. Hoje Rui Moreira escreve no DN sobre este assunto.
PC
PC
Imprensa estrangeira
O espectador (e meu grande amigo) Bernardo tem razão no que diz respeito ao exagero da Time, ao levar à capa da edição europeia o caso das prostitutas de Bragança. Discordo de que a reportagem de Amanda Ripley e Martha de la Cal se trate de "uma patética lição de mau jornalismo"; parece-me que o erro é antes dos editores, ao levarem o assunto à capa nos termos em que o fazem, igualando Bragança a Amsterdam (tomara nós ter uma Amsterdam, e faço notar que não o digo pelos bordéis nem pelos charros). Anyway, voltando à vaca fria (sem piada fácil), faço notar que o próprio Bernardo reconhece a "veracidade dos factos" - que ninguém contesta, nem sequer o parolo Governo que temos e cuja atitude foi, já aqui o disse, profundamente imbecil. Aconselho o artigo de José Vítor Malheiros no Público de hoje.
Na mesma posta, o Bernardo desanca o El País por causa de uma reportagem publicada no Domingo passado (não posso pôr linque porque é reservado a subscritores). Não quero ser acusado de caseirismo, pelo que começo por dizer que há vários erros que não se compreendem num jornal com o prestígio do El País, para mais quando a reportagem justificou, na óptica da sua Direcção, um enviado especial - Luis Gómez, que por acaso não conheço. O mais flagrante é talvez o da caracterização da Casa Pia como "instituição educativa mais prestigiosa" de Portugal. Mas, meu caro Bernardo, retira o inciso à frase e dir-me-ás se é mentira que "Os casos de pedofilia na Casa Pía hipotecam a agenda política do país". Ou, citando o mesmo artigo, que "a euforia de 1998 deu lugar a um pesadelo, repleto de maus augúrios". Ou que a mesma Casa Pia era, de facto, um colégio de horrores.
O maior mérito de Gómez é, para mim, apanhar o contraste entre o que era o ego de Portugal do guterrismo e as evidências que ninguém pode hoje negar (nem Arnaut com as suas retaliações que não roubam um minuto de sono aos editores da Time). O nosso país inebriou-se com "picos" como a entrada no primeiro pelotão do euro, a Expo98, o Nobel para Saramago, Timor, Porto2001, a organização do Euro2004, a eleição para o Conselho de Segurança da ONU, etc, e esqueceu-se de que estes episódios, a que não quero retirar valor, não bastam. António Barreto disse-o da melhor forma: não éramos um país rico com bolsas de pobreza, mas um país pobre com bolsas de riqueza. Recordemos Entre-os-Rios e a surpresa geral - aquilo passava-se a 30 km da Ribeira do Porto, por onde um sorridente primeiro-ministro passeara a contemplar o fogo-de-artifício inaugural da Capital Europeia da Cultura? O viaduto do IC19 é uma versão mais pequena - e felizmente sem os contornos trágicos - da malograda ponte de Castelo de Paiva. São, e não é Gómez o primeiro a utilizá-las, metáforas do nosso país.
Concordo com o Bernardo: nem tanto ao mar nem tanto à terra. Ou seja, nem o orgasmo nacional de finais dos 90 nem a depressão geral do início deste século nos servem de muito. Um e outra impedem-nos de resolver, a sério, os problemas estruturais de Portugal. Mas não nos piquemos tanto quando a imprensa estrangeira nos retrata os defeitos. Quando aqui cheguei queixava-me de que ignoravam o meu país. Agora já não, pelos piores motivos. Esses tem-nos dado Portugal.
PC
PS: Em relação à Galiza, não, Bernardo, não é preciso "lembrar o senhor Luis Gómez" - que, insisto, não conheço - do que por lá se passa. Nenhum jornal tem batido tanto nessa tecla como o El País, e não é só pela tendência antiaznarista que tão-pouco disfarça.
Na mesma posta, o Bernardo desanca o El País por causa de uma reportagem publicada no Domingo passado (não posso pôr linque porque é reservado a subscritores). Não quero ser acusado de caseirismo, pelo que começo por dizer que há vários erros que não se compreendem num jornal com o prestígio do El País, para mais quando a reportagem justificou, na óptica da sua Direcção, um enviado especial - Luis Gómez, que por acaso não conheço. O mais flagrante é talvez o da caracterização da Casa Pia como "instituição educativa mais prestigiosa" de Portugal. Mas, meu caro Bernardo, retira o inciso à frase e dir-me-ás se é mentira que "Os casos de pedofilia na Casa Pía hipotecam a agenda política do país". Ou, citando o mesmo artigo, que "a euforia de 1998 deu lugar a um pesadelo, repleto de maus augúrios". Ou que a mesma Casa Pia era, de facto, um colégio de horrores.
O maior mérito de Gómez é, para mim, apanhar o contraste entre o que era o ego de Portugal do guterrismo e as evidências que ninguém pode hoje negar (nem Arnaut com as suas retaliações que não roubam um minuto de sono aos editores da Time). O nosso país inebriou-se com "picos" como a entrada no primeiro pelotão do euro, a Expo98, o Nobel para Saramago, Timor, Porto2001, a organização do Euro2004, a eleição para o Conselho de Segurança da ONU, etc, e esqueceu-se de que estes episódios, a que não quero retirar valor, não bastam. António Barreto disse-o da melhor forma: não éramos um país rico com bolsas de pobreza, mas um país pobre com bolsas de riqueza. Recordemos Entre-os-Rios e a surpresa geral - aquilo passava-se a 30 km da Ribeira do Porto, por onde um sorridente primeiro-ministro passeara a contemplar o fogo-de-artifício inaugural da Capital Europeia da Cultura? O viaduto do IC19 é uma versão mais pequena - e felizmente sem os contornos trágicos - da malograda ponte de Castelo de Paiva. São, e não é Gómez o primeiro a utilizá-las, metáforas do nosso país.
Concordo com o Bernardo: nem tanto ao mar nem tanto à terra. Ou seja, nem o orgasmo nacional de finais dos 90 nem a depressão geral do início deste século nos servem de muito. Um e outra impedem-nos de resolver, a sério, os problemas estruturais de Portugal. Mas não nos piquemos tanto quando a imprensa estrangeira nos retrata os defeitos. Quando aqui cheguei queixava-me de que ignoravam o meu país. Agora já não, pelos piores motivos. Esses tem-nos dado Portugal.
PC
PS: Em relação à Galiza, não, Bernardo, não é preciso "lembrar o senhor Luis Gómez" - que, insisto, não conheço - do que por lá se passa. Nenhum jornal tem batido tanto nessa tecla como o El País, e não é só pela tendência antiaznarista que tão-pouco disfarça.
segunda-feira, outubro 20, 2003
domingo, outubro 19, 2003
Obviamente, demita-se!
Desculpe, Dr. Ferro Rodrigues, mas se gosta realmente do PS, de Portugal e dos portugueses, se concorda que a democracia treme na falta de um governo bom, de uma oposição boa - e que esta tambem faz aquele -, se acredita que um seu qualquer outro compatriota vale tanto com o canídeo Gastão, e que a única oposição que tem feito tem sido falar e contra-falar sobre o caso Pedroso, então só lhe resta um caminho. Saia. Demita-se. Ceda o lugar a outros, que não estejam metidos na porcaria ate ao pescoço, seja porque o meteram, seja porque foi inábil para dela sair. Vá-se embora. Deixe o PS, os portugueses e Portugal em paz. Objectivamente, o senhor tem servido como um excelente aliado do Governo, ao dar cabo da única alternativa possível para governar Portugal. E tem sido profundamente incompetente no seu cargo de líder do maior partido da oposição. Não presta. Não serve. Exigiu a demissão de Portas, dos vários ministros, etc, etc. Chegou a hora de exigir a sua. Pegue na Embaixadora Ana Gomes e em mais uns quantos, e parta para umas (longas) férias. Com ou sem Gastão, coitado, que, ao menos, não está abaixo de cão!!!
MC
MC
sexta-feira, outubro 17, 2003
Estou como a ASL,
ainda não me decidi a passar uma expressoless week. Ainda que ao retardador, porque aqui não se consegue comprar jornais portugueses, continuo a ler o calhamaço, sem saber bem porquê... Hoje, contudo, ao pegar na edição da semana passada, encontrei uma razão, ou melhor, duas. As capas do Actual e da Revista, com Nicole Kidman e Uma Thurman, valem os dois euros e noventa que nos chateia dar pela qualidade do jornal.
PC
PC
quinta-feira, outubro 16, 2003
Regresso a “La pelota vasca”
Vítor Meirinho, leitor do Blógica, comenta uma posta minha sobre o filme do espanhol Julio Medem e o conflito do País Basco:
“Do meu ponto de vista, há sempre um facto que se esquece ao falar da questão política e terrorista no País Basco, e é para mim importantíssimo: a pequena dimensão da ETA (que faz uns cinco, seis ou sete mortos por ano), que não se corresponde em absoluto com a imagem de conflito terrível que se pretende oferecer à opinião pública espanhola e internacional. Quero dizer, acho que o problema do terrorismo é propositadamente manipulado pelo poder espanhol para, com a escusa de um imaginário «apocalipse terrorista» que dista de ser tal (sem por isso deixar de ser grave a morte de pessoas, obviamente) atacar as liberdades democráticas que cabe ter o nacionalismo basco em geral.”
Concordo e discordo. Vejamos porquê:
Vítor Meirinho tem razão no que diz respeito a algum aproveitamento por parte do governo de Aznar, que, de resto, tem inviabilizado toda e qualquer tentativa de diálogo com os nacionalistas não-violentos (PNV, Aralar, etc). O PP tem usado o conflito basco para tentar forçar o PSOE a aparecer de braço dado com o Governo, através de uma chantagem, segundo a qual quem não está com Aznar está com a ETA (argumento reproduzido também quanto à invasão do Iraque). Os socialistas não alinham a 100%, mas na maioria dos casos sim. Uma questão muito discutida foi a da ilegalização do Herri Batasuna, braço político da ETA. Havia argumentos fortes a favor (as subvenções públicas que o partido recebia iam direitinhas para os terroristas) e contra (assim elimina-se a possibilidade de entendimentos e empurra-se os nacionalistas moderados para conquistar o eleitorado radical). Confesso não ter certezas.
Quanto ao PNV (que lidera o governo regional de Euskadi), a sua atitude em relação à ETA tem sido pusilânime. Entre a tentação de roubar votos ao Batasuna, a certeza de não fazer parte da lista de alvos a abater e a desculpa que lhe oferece, de bandeja, o nacionalismo também radical de Aznar, o PNV vai tentando levar a água ao seu moinho. Agora apresentou o chamado plano Ibarretxe (nome do actual presidente do governo basco, ou lehendakari), que quer fazer aprovar atropelando a Constituição, e para o qual são indispensáveis os votos, no parlamento basco, do Batasuna (a quem o PP e o PSOE querem, obedecendo aos tribunais, retirar direitos enquanto grupo parlamentar, coisa a que o PNV se opõe, com um apoio despropositado dos comunistas).
É complexa a situação no País Basco, e Medem tem, insisto, o mérito de mostrar isso mesmo. O desequilíbrio eventual do filme deve-se à recusa do PP e da plataforma anti-terrorista ¡Basta Ya! em participar (o líder deste movimento, o filósofo Fernando Savater, veio recentemente dizer que, embora não tenha aceite o convite de Medem, acha que o filme não defende de nenhum modo o terrorismo).
O meu desacordo com o leitor refere-se à pequena dimensão da ETA. Engana-se na estatística: este ano morreram 3, no ano passado 5, mas em 2001 foram 15 e em 2000 foram 23 as vítimas da loucura assassina da ETA, autêntico fascismo posto em prática.
É verdade que, graças à Ertzaintza (polícia basca), em colaboração com a polícia francesa e com algum mérito do governo central, os terroristas têm sofrido baixas enormes, são hoje uma meia dúzia de tarados que matam por matar e já nem sabem bem o que defendem. Mas também é verdade que, para além da estatística, em Euskadi não se vive em paz nem em segurança. A qualquer momento a espada de Dâmocles pode cair-nos em cima. Há listas de gente a abater, há extorsão (a que os ignóbeis etarras chamam imposto revolucionário), há medo. Isto do ponto de vista da segurança. Do ponto de vista da convivência, a situação é igualmente má. Os governos central e regional, com o seu braço-de-ferro, dividem em vez de aproximar as fracções nacionalista e não-nacionalista da população. Da parte de Ibarretxe, até com algum racismo, uma espécie de mitologia de povo escolhido. Da parte de Aznar, com um espanholismo que não tem justificação e impede todo e qualquer pensamento diferente do seu. Dois extremismos que são alibi um do outro. Uma tristeza que se torna maior ao ver as paisagens e as pessoas que Medem filma.
PC
“Do meu ponto de vista, há sempre um facto que se esquece ao falar da questão política e terrorista no País Basco, e é para mim importantíssimo: a pequena dimensão da ETA (que faz uns cinco, seis ou sete mortos por ano), que não se corresponde em absoluto com a imagem de conflito terrível que se pretende oferecer à opinião pública espanhola e internacional. Quero dizer, acho que o problema do terrorismo é propositadamente manipulado pelo poder espanhol para, com a escusa de um imaginário «apocalipse terrorista» que dista de ser tal (sem por isso deixar de ser grave a morte de pessoas, obviamente) atacar as liberdades democráticas que cabe ter o nacionalismo basco em geral.”
Concordo e discordo. Vejamos porquê:
Vítor Meirinho tem razão no que diz respeito a algum aproveitamento por parte do governo de Aznar, que, de resto, tem inviabilizado toda e qualquer tentativa de diálogo com os nacionalistas não-violentos (PNV, Aralar, etc). O PP tem usado o conflito basco para tentar forçar o PSOE a aparecer de braço dado com o Governo, através de uma chantagem, segundo a qual quem não está com Aznar está com a ETA (argumento reproduzido também quanto à invasão do Iraque). Os socialistas não alinham a 100%, mas na maioria dos casos sim. Uma questão muito discutida foi a da ilegalização do Herri Batasuna, braço político da ETA. Havia argumentos fortes a favor (as subvenções públicas que o partido recebia iam direitinhas para os terroristas) e contra (assim elimina-se a possibilidade de entendimentos e empurra-se os nacionalistas moderados para conquistar o eleitorado radical). Confesso não ter certezas.
Quanto ao PNV (que lidera o governo regional de Euskadi), a sua atitude em relação à ETA tem sido pusilânime. Entre a tentação de roubar votos ao Batasuna, a certeza de não fazer parte da lista de alvos a abater e a desculpa que lhe oferece, de bandeja, o nacionalismo também radical de Aznar, o PNV vai tentando levar a água ao seu moinho. Agora apresentou o chamado plano Ibarretxe (nome do actual presidente do governo basco, ou lehendakari), que quer fazer aprovar atropelando a Constituição, e para o qual são indispensáveis os votos, no parlamento basco, do Batasuna (a quem o PP e o PSOE querem, obedecendo aos tribunais, retirar direitos enquanto grupo parlamentar, coisa a que o PNV se opõe, com um apoio despropositado dos comunistas).
É complexa a situação no País Basco, e Medem tem, insisto, o mérito de mostrar isso mesmo. O desequilíbrio eventual do filme deve-se à recusa do PP e da plataforma anti-terrorista ¡Basta Ya! em participar (o líder deste movimento, o filósofo Fernando Savater, veio recentemente dizer que, embora não tenha aceite o convite de Medem, acha que o filme não defende de nenhum modo o terrorismo).
O meu desacordo com o leitor refere-se à pequena dimensão da ETA. Engana-se na estatística: este ano morreram 3, no ano passado 5, mas em 2001 foram 15 e em 2000 foram 23 as vítimas da loucura assassina da ETA, autêntico fascismo posto em prática.
É verdade que, graças à Ertzaintza (polícia basca), em colaboração com a polícia francesa e com algum mérito do governo central, os terroristas têm sofrido baixas enormes, são hoje uma meia dúzia de tarados que matam por matar e já nem sabem bem o que defendem. Mas também é verdade que, para além da estatística, em Euskadi não se vive em paz nem em segurança. A qualquer momento a espada de Dâmocles pode cair-nos em cima. Há listas de gente a abater, há extorsão (a que os ignóbeis etarras chamam imposto revolucionário), há medo. Isto do ponto de vista da segurança. Do ponto de vista da convivência, a situação é igualmente má. Os governos central e regional, com o seu braço-de-ferro, dividem em vez de aproximar as fracções nacionalista e não-nacionalista da população. Da parte de Ibarretxe, até com algum racismo, uma espécie de mitologia de povo escolhido. Da parte de Aznar, com um espanholismo que não tem justificação e impede todo e qualquer pensamento diferente do seu. Dois extremismos que são alibi um do outro. Uma tristeza que se torna maior ao ver as paisagens e as pessoas que Medem filma.
PC
quarta-feira, outubro 15, 2003
Os cus e as calças (pelos tornozelos)
O Governo suspende a publicidade ao Euro2004 na revista Time, noticia o Público. A fonte é o gabinete do ministro adjunto do PM. O motivo? Esta reportagem sobre as prostitutas brasileiras em Bragança.
A notícia diz que o Governo está "a avaliar a situação criada pela reportagem". Ora eu li-a e, com a licença dos meus anfitriões pergunto ¿De qué cojones estamos hablando?
Comecemos pela reportagem. A história das raparigas, dos bares de alterne e das mulheres revoltadas está bem contada. A jornalista teve a preocupação de ouvir as prostitutas, as mulheres enganadas (autoras do manifesto Mães de Bragança), o dono de uma rede de casas de alterne, os homens que os frequentam, a polícia, o presidente da Câmara, sociólogos, gente dos serviços de imigração, etc. O resultado no interior é equilibrado, ainda que se note que quem a escreveu não conhece Portugal como a palma da mão. Dito isto, é exagerado o título Europe's new red light district na capa, até porque não tem correspondência com o conteúdo, além de dar a ideia que isto só se passa em Bragança. De resto, a própria reportagem deixa claro que o que diferencia este caso de outros é a reacção das mulheres (ainda bem que se mexeram, sem discutir os comos e os quês).
É triste (hoje como há séculos) a história de uma mulher que se dedica não sei quantos anos a um marido que prefere ir às putas. Na reportagem há pormenores cruéis (devidamente citados, não inventados), como o de alguém que compara o aroma exótico das brasileiras com o cheiro a gordura de uma dona de casa a fazer o jantar (idem para a forma física de uma e de outra). Não "caem bem" as gargalhadas do chefe da polícia local, que aconselha as mulheres a "fazerem-se mais interessantes para os maridos". Mas alguém se espanta que isto se passe no nosso país, como em tantos outros? Onde está a ofensa, na verdade?!
Releio a reportagem, releio a notícia do Público e a atitude do Governo continua a parecer-me histérica e despropositada. E em relação ao Europeu, publicitem-no, porque a coisa já não vai famosa, nem no plano desportivo, nem no económico. Se resolverem manter o ar de virgens ofendidas, pelo menos invistam o dinheiro poupado na publicidade da Time numa coisa útil: comprem os árbitros do play-off Espanha-Noruega para que os nuestros hermanos se qualifiquem. De certeza que vêm mais espanhóis do que noruegueses, e sempre são mais uns euros que cá deixam.
PC
PS: Detalhe delicioso na reportagem: ...Portugal's traditional, mournful fado music, a sort of blues-opera hybrid that weaves together vocals and string instruments...
A notícia diz que o Governo está "a avaliar a situação criada pela reportagem". Ora eu li-a e, com a licença dos meus anfitriões pergunto ¿De qué cojones estamos hablando?
Comecemos pela reportagem. A história das raparigas, dos bares de alterne e das mulheres revoltadas está bem contada. A jornalista teve a preocupação de ouvir as prostitutas, as mulheres enganadas (autoras do manifesto Mães de Bragança), o dono de uma rede de casas de alterne, os homens que os frequentam, a polícia, o presidente da Câmara, sociólogos, gente dos serviços de imigração, etc. O resultado no interior é equilibrado, ainda que se note que quem a escreveu não conhece Portugal como a palma da mão. Dito isto, é exagerado o título Europe's new red light district na capa, até porque não tem correspondência com o conteúdo, além de dar a ideia que isto só se passa em Bragança. De resto, a própria reportagem deixa claro que o que diferencia este caso de outros é a reacção das mulheres (ainda bem que se mexeram, sem discutir os comos e os quês).
É triste (hoje como há séculos) a história de uma mulher que se dedica não sei quantos anos a um marido que prefere ir às putas. Na reportagem há pormenores cruéis (devidamente citados, não inventados), como o de alguém que compara o aroma exótico das brasileiras com o cheiro a gordura de uma dona de casa a fazer o jantar (idem para a forma física de uma e de outra). Não "caem bem" as gargalhadas do chefe da polícia local, que aconselha as mulheres a "fazerem-se mais interessantes para os maridos". Mas alguém se espanta que isto se passe no nosso país, como em tantos outros? Onde está a ofensa, na verdade?!
Releio a reportagem, releio a notícia do Público e a atitude do Governo continua a parecer-me histérica e despropositada. E em relação ao Europeu, publicitem-no, porque a coisa já não vai famosa, nem no plano desportivo, nem no económico. Se resolverem manter o ar de virgens ofendidas, pelo menos invistam o dinheiro poupado na publicidade da Time numa coisa útil: comprem os árbitros do play-off Espanha-Noruega para que os nuestros hermanos se qualifiquem. De certeza que vêm mais espanhóis do que noruegueses, e sempre são mais uns euros que cá deixam.
PC
PS: Detalhe delicioso na reportagem: ...Portugal's traditional, mournful fado music, a sort of blues-opera hybrid that weaves together vocals and string instruments...
segunda-feira, outubro 13, 2003
Progresso e Teoria da Evolução
Atenção, Bernardo, porque a posta em que desancas o progresso incorre num equívoco. Não vou hoje entrar no debate sobre o progresso propriamente dito (outro dia, na blogosfera ou num jantar no Bairro Alto), mas fazer umas observações quanto à teoria da evolução das espécies, que também desancas. Cá vamos:
1. Comecemos por sublinhar que a teoria da evolução das espécies é de Darwin - o primeiro a sistematizá-la, com ideias anteriores - mas já passaram uns anos desde a viagem do Beagle (1831-1836), as Galápagos e os tentilhões. Já houve tempo para alguma crítica e alguma análise e, sobretudo, para que os conhecimentos entretanto adquiridos possam ajudar a dar mais consistência à teoria ou a iluminar aspectos pendentes da mesma. A química também já não é só Lavoisier, nem a física Newton, e até há um português que desdiz ditos de Einstein. Uma abordagem actual da evolução é a do americano Stephen Jay Gould, falecido no ano passado.
2. O erro em que me parece que cais - como muita gente - é o de atribuir à teoria da evolução das espécies uma ideia que não faz parte dela: a de que as mudanças são para melhor, ou que há uma direcção, um sentido (um fim?), tal como se estivéssemos num processo linear destinado ao tal Super-Homem de que falas. Nada que se pareça. Na raiz desta ideia errada está a concepção errada da evolução como uma adaptação progressiva determinada pelas mudanças do meio. A ser esse o caso (insisto, não é) a evolução teria um sentido, um objectivo, mas ainda assim ele não seria o de conseguir super-homens, antes seres vivos o mais adaptados possível ao meio em que viviam. Mas Darwin) não diz que as mudanças do meio determinam as mudanças nos seres vivos, mas sim que as mudanças no meio determinam quais variedades - de entre muitas pré-existentes - singram ou não.
3. De onde vêm, então, estas mudanças? No tempo de Darwin não havia conhecimentos suficientes (foi antes de Mendel) sobre genética, mas hoje, felizmente, hé-os. Não só se conhecem os mecanismos de transmissão hereditária como se conhecem os fenómenos mais ou menos extraordinários que ocorrem durante o mesmo. As mutações genéticas são, como dizes, raras. São a excepção, sim senhor. E ainda por cima, muitas são, desde logo, incompatíveis com a vida. Ou seja, as que produzem mudanças na descendência de um dado ser vivo são ainda mais raras do que tu dizes. E claro, as que (por casualidade!) levam a que um organismo esteja melhor adaptado a um meio que mudou (ou não, mas essa é uma variável independente da dita mutação), serão ainda menos. Agora explica-me: porque raio é que isso serviria de argumento contra a teoria da evolução das espécies?! Talvez o facto de a selecção natural demorar milhões de anos a actuar tenha que ver com isso, não?! É por isso que as cobras têm cintura pélvica residual, os cavalos uma espécie de unha a meia-altura das pernas, e os Homens dentes do siso (em progressivo, desculpa o adectivo, desaparecimento).
4. "Mais sofisticado" não significa melhor. Poderá querer dizer "mais adaptado ao meio", segundo as características deste. De forma contingente. Stephen Jay Gould batia muito nesta tecla.
E chega, que a posta vai longa e não quero que se torne em posta de bacalhau. Sobre o progresso, a democracia, o Papa, a iraniana, discutiremos noutra altura. A propósito, manda um abraço ao Duarte por esta posta e toma tu outro por esta, ainda que um abraço amigo não precise de ter uma posta como pretexto.
PC
1. Comecemos por sublinhar que a teoria da evolução das espécies é de Darwin - o primeiro a sistematizá-la, com ideias anteriores - mas já passaram uns anos desde a viagem do Beagle (1831-1836), as Galápagos e os tentilhões. Já houve tempo para alguma crítica e alguma análise e, sobretudo, para que os conhecimentos entretanto adquiridos possam ajudar a dar mais consistência à teoria ou a iluminar aspectos pendentes da mesma. A química também já não é só Lavoisier, nem a física Newton, e até há um português que desdiz ditos de Einstein. Uma abordagem actual da evolução é a do americano Stephen Jay Gould, falecido no ano passado.
2. O erro em que me parece que cais - como muita gente - é o de atribuir à teoria da evolução das espécies uma ideia que não faz parte dela: a de que as mudanças são para melhor, ou que há uma direcção, um sentido (um fim?), tal como se estivéssemos num processo linear destinado ao tal Super-Homem de que falas. Nada que se pareça. Na raiz desta ideia errada está a concepção errada da evolução como uma adaptação progressiva determinada pelas mudanças do meio. A ser esse o caso (insisto, não é) a evolução teria um sentido, um objectivo, mas ainda assim ele não seria o de conseguir super-homens, antes seres vivos o mais adaptados possível ao meio em que viviam. Mas Darwin) não diz que as mudanças do meio determinam as mudanças nos seres vivos, mas sim que as mudanças no meio determinam quais variedades - de entre muitas pré-existentes - singram ou não.
3. De onde vêm, então, estas mudanças? No tempo de Darwin não havia conhecimentos suficientes (foi antes de Mendel) sobre genética, mas hoje, felizmente, hé-os. Não só se conhecem os mecanismos de transmissão hereditária como se conhecem os fenómenos mais ou menos extraordinários que ocorrem durante o mesmo. As mutações genéticas são, como dizes, raras. São a excepção, sim senhor. E ainda por cima, muitas são, desde logo, incompatíveis com a vida. Ou seja, as que produzem mudanças na descendência de um dado ser vivo são ainda mais raras do que tu dizes. E claro, as que (por casualidade!) levam a que um organismo esteja melhor adaptado a um meio que mudou (ou não, mas essa é uma variável independente da dita mutação), serão ainda menos. Agora explica-me: porque raio é que isso serviria de argumento contra a teoria da evolução das espécies?! Talvez o facto de a selecção natural demorar milhões de anos a actuar tenha que ver com isso, não?! É por isso que as cobras têm cintura pélvica residual, os cavalos uma espécie de unha a meia-altura das pernas, e os Homens dentes do siso (em progressivo, desculpa o adectivo, desaparecimento).
4. "Mais sofisticado" não significa melhor. Poderá querer dizer "mais adaptado ao meio", segundo as características deste. De forma contingente. Stephen Jay Gould batia muito nesta tecla.
E chega, que a posta vai longa e não quero que se torne em posta de bacalhau. Sobre o progresso, a democracia, o Papa, a iraniana, discutiremos noutra altura. A propósito, manda um abraço ao Duarte por esta posta e toma tu outro por esta, ainda que um abraço amigo não precise de ter uma posta como pretexto.
PC
domingo, outubro 12, 2003
Ah, grande selecção!
A palavra "Selecção", segundo o Dicionário de Sinónimos da Porto Editora (passe a publicidade) quer dizer: apuramento, combinado, selecto, distinção, eleição, escolha, predilecção, separação e triagem.
Não sei se o Dicionário errou - creio que não -, mas as palavras "vergonha", "buracos", "falhanços", miséria" e "desgraçadinhos" não constam da lista.
Mas foi o que vimos e temos visto, neste grande campeonato que Scolari, sim, o mesmo que aparece com ar entusiástico a falar às multidões, com uma assinatura final de mestiçagem entre o Euro 2004 e o logotipo da campanha do Governo, resolveu realizar, já que não estávamos na fase do apuramento. Os outros que se esgadanhem, que se torçam que dêem o litro. Nõs temos adversários poderosíssimos para os treinos: ele é o Casaquistão, ele é a Albânia, ele é... a liga dos reumáticos e o team dos saci-perêrês... e mesmo assim, lá ganhámos. Cinco a três. O grande Ricardo estava inspirado, graças a deus... se não era como com os Camarões - de 5-0 a 5-5, e só não deu "al ajillo" porque o jogo acabou...
Não basta investir em estádios ultra-formidáveis, que nem os Rolling Stones esperavam, de tão bons. Não basta desenrolar tapetes de relva holandesa para substituir a relva bichada do grande Estádio Lagartáxia XXI. Não basta os espaços para os anões, na catedral, e para os invisuais, no outro lado da Circular - e quiçá pra os surdos, no Estádio do Dragão... só falta. Investir num bom treinador, num bom seleccionador que não escolha o 3º guarda-redes do Porto podendo ter o 1º, investir numa equipa (que não é um mero somatório de estrelas). Scolari não vai fazer grande "scola". Filipão mais parece um filipinho. Ah, grande pátria nossa amada. E ainda dizem que o futebol é o ópio do povo.... quanto a drogas, realmente, estamos conversados...
MC
Não sei se o Dicionário errou - creio que não -, mas as palavras "vergonha", "buracos", "falhanços", miséria" e "desgraçadinhos" não constam da lista.
Mas foi o que vimos e temos visto, neste grande campeonato que Scolari, sim, o mesmo que aparece com ar entusiástico a falar às multidões, com uma assinatura final de mestiçagem entre o Euro 2004 e o logotipo da campanha do Governo, resolveu realizar, já que não estávamos na fase do apuramento. Os outros que se esgadanhem, que se torçam que dêem o litro. Nõs temos adversários poderosíssimos para os treinos: ele é o Casaquistão, ele é a Albânia, ele é... a liga dos reumáticos e o team dos saci-perêrês... e mesmo assim, lá ganhámos. Cinco a três. O grande Ricardo estava inspirado, graças a deus... se não era como com os Camarões - de 5-0 a 5-5, e só não deu "al ajillo" porque o jogo acabou...
Não basta investir em estádios ultra-formidáveis, que nem os Rolling Stones esperavam, de tão bons. Não basta desenrolar tapetes de relva holandesa para substituir a relva bichada do grande Estádio Lagartáxia XXI. Não basta os espaços para os anões, na catedral, e para os invisuais, no outro lado da Circular - e quiçá pra os surdos, no Estádio do Dragão... só falta. Investir num bom treinador, num bom seleccionador que não escolha o 3º guarda-redes do Porto podendo ter o 1º, investir numa equipa (que não é um mero somatório de estrelas). Scolari não vai fazer grande "scola". Filipão mais parece um filipinho. Ah, grande pátria nossa amada. E ainda dizem que o futebol é o ópio do povo.... quanto a drogas, realmente, estamos conversados...
MC
sexta-feira, outubro 10, 2003
Boa escolha
Ainda bem que o Comité Nobel atribuiu o Prémio Nobel da Paz à activista iraniana Shirin Ebadi. Uma boa surpresa, quando tudo levava a crer que o premiado seria o Papa. Embora reconheça esforços de ecumenismo a João Paulo II, merece-me muitíssimas reticências. A esta senhora conheço-a pior, mas o trabalho que tem desenvolvido é difícil, perigoso e extraordinário. Impulsionar reformas no mundo islâmico é do mais importante que se pode fazer pela Humanidade nestes tempos. Impulsioná-las na Igreja Católica também não é dispiciendo, sem querer chover no molhado, a prestação de Karol Wojtyla neste ponto deixa muito a desejar.
PC
PC
quinta-feira, outubro 09, 2003
Ite, missae est.
A propósito dos acontecimentos dos últimos dias - ministros que estavam a preparar o dia seguinte e vêem-se despedidos (com "justa causa", diga-se), ex-ministro que está preso e sai por um acórdão que já devia ter sido dado há semanas (dura lex, sed lex, e aplica-se a todos, ex-ministros ou ministros, com o mesmo rigor e implacabilidade), estudante que sonhava com a entrada numa faculdade (e já dava como "favas contadas") e porque vive num Estado de direito e em democracia, vai ter que ir aprender para outro lado... e, se calhar, tanta gente que pensava estar bem e descobriu uma doença grave, ou tantos que tinham perdido a esperança e adquiriram novos rumos e novos graus de liberdade. Enfim. Tudo tem um sentido, mesmo as coisas de sentido duvidoso. E lembrei-me de um texto que escrevi há muito tempo. Aqui fica, para os nossos visitantes bloguistas.
MC
Amanhã um novo dia
E entre o sol e o nevoeiro, a paz e a discórdia, o consenso e o conflito, o feio e o bonito, um novo átomo nascerá, um sonho será permitido, uma página nova aberta e despertos os sentidos.
Para que possamos cometer outros erros, que não os mesmos, porque essa é a maravilha e a marca indelével da imperfeição das pessoas e da condição humana, no percurso eterno do aperfeiçoamento a caminho do infinito e da utopia.
MC
Amanhã um novo dia
E entre o sol e o nevoeiro, a paz e a discórdia, o consenso e o conflito, o feio e o bonito, um novo átomo nascerá, um sonho será permitido, uma página nova aberta e despertos os sentidos.
Para que possamos cometer outros erros, que não os mesmos, porque essa é a maravilha e a marca indelével da imperfeição das pessoas e da condição humana, no percurso eterno do aperfeiçoamento a caminho do infinito e da utopia.
"Simplesmente observamos o que se passa",
dizem eles. Mas nós sabemos que fazem muito mais que isso. Bernardo Sanchez da Motta e Duarte Fragoso são bons amigos e acabam de lançar um blogue. Dizem-se "espectadores" para que acreditemos que apenas assistem ao grande teatro do Mundo. Mas um espectador pode aplaudir, ressonar, apupar, patear ou até atirar uns bons tomates podres se a trupe não estiver à altura da distinta plateia ou, de forma mais pragmática, do preço dos bilhetes que, a bem dizer, não anda barato. Vai valer muito a pena ler o blogue do Bernardo e do Duarte. Os dois primeiros dias prometem. Provocadores, polémicos e de uma grande honestidade intelectual, dão vontade de dizer "posso não estar de acordo com as suas ideias, mas lutarei para que possa exprimi-las" (era mais ou menos isto, nãao era?). Além de merecidas e entusiásticas boas-vindas à blogosfera, queremos dedicar-lhes um poema. Para não arriscarmos a pele, abstemo-nos de submeter à altíssima bitola dos Espectadores os nossos escassos dotes de vates da batata. Preferimos delegar - e perdoem a repetição - em SG (Gigante, que não Light). Muito a propósito, aqui fica o Espectáculo.
ESPECTÁCULO (in Campolide, 1979)
Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar
Quando
tu me vires no music-hall
estarei no palco
cabeça do sol
ao sol da noite das luzes
à espera dum outro sol
e que os teus olhos os uses
como quem usa um farol
não me olhes só dessa frisa lateral
desce pela cortina e acompanha-me em cena
vamos dar à perna como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos bailar
Quando
tu me vires na televisão
estarei no écran
pés assentes no chão
a fazer publicidade
mas desta vez da verdade
mas desta vez da alegria
de duas mãos agarradas
mão a mão no dia a dia
não me olhes só desse maple estofado
desce pela antena e vem comigo ao programa
vem falar à gente como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos cantar
E quando
à minha casa fores dar
vem devagar
e apaga-me a luz
que a luz destrouta ribalta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta.
Depois há uma parte linda só com piano. Chapelada para os Espectadores. Um abraço!
PC
ESPECTÁCULO (in Campolide, 1979)
Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar
Quando
tu me vires no music-hall
estarei no palco
cabeça do sol
ao sol da noite das luzes
à espera dum outro sol
e que os teus olhos os uses
como quem usa um farol
não me olhes só dessa frisa lateral
desce pela cortina e acompanha-me em cena
vamos dar à perna como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos bailar
Quando
tu me vires na televisão
estarei no écran
pés assentes no chão
a fazer publicidade
mas desta vez da verdade
mas desta vez da alegria
de duas mãos agarradas
mão a mão no dia a dia
não me olhes só desse maple estofado
desce pela antena e vem comigo ao programa
vem falar à gente como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos cantar
E quando
à minha casa fores dar
vem devagar
e apaga-me a luz
que a luz destrouta ribalta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta.
Depois há uma parte linda só com piano. Chapelada para os Espectadores. Um abraço!
PC
quarta-feira, outubro 08, 2003
Não foi por unanimidade,
como diz Ivan Nunes. O relator do acórdão votou vencido. Seja como for, SIM, é uma boa notícia a libertação de Paulo Pedroso.
PC
PC
A "frente facho-canhota contra as praxes",
que lançaram Statler e Animal, publicou recentemente o seu epitáfio, pertinente como as postas anteriores sobre o assunto. De resto, soube há dias que deste lado da península também se fazem praxes universitárias. Chamam-lhes "novatadas" e chegam a ser tão alarves e fascistóides como as nossas. Por abominar esse monumento à imbecilidade, aqui vai uma letra do inigualável SG, que "desanca a praxe".
MAÇÃ COM BICHO (in Lupa)
O tempo passa
e lembras com saudade
o saudoso tempo da universidade
foste caloiro
e quintanista
já comes caviar
esquece o alpista
P`ra entrar na universidade
é preciso
prender o humor
na gaiola do riso
ter médias altas
hi-hon, ão-ão
zurrar, ladrar
lamber de quatro o chão
Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
É divertida (Mé-mé)
Lição de vida (Piu-piu)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
Chamar-se a si mesmo
besta anormal
dá sempre atenuante ao tribunal
é formativo
p`ró estudante
que não quer ser popriamente
um ingnorante
Empurrar fósforos com o nariz
tirar à estupidez a bissectriz
eis causas nobres
estruturantes
eis tradição
sem ser o que era dantes
Não vou usar
mais exemplos concretos
é rastejando
que se ascende aos tectos?
Então vejamos
preto no branco
as cores da razão
porque a praxe eu desanco
Chapelada para SG e que o próximo álbum não tarde!
PC
MAÇÃ COM BICHO (in Lupa)
O tempo passa
e lembras com saudade
o saudoso tempo da universidade
foste caloiro
e quintanista
já comes caviar
esquece o alpista
P`ra entrar na universidade
é preciso
prender o humor
na gaiola do riso
ter médias altas
hi-hon, ão-ão
zurrar, ladrar
lamber de quatro o chão
Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
É divertida (Mé-mé)
Lição de vida (Piu-piu)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
Chamar-se a si mesmo
besta anormal
dá sempre atenuante ao tribunal
é formativo
p`ró estudante
que não quer ser popriamente
um ingnorante
Empurrar fósforos com o nariz
tirar à estupidez a bissectriz
eis causas nobres
estruturantes
eis tradição
sem ser o que era dantes
Não vou usar
mais exemplos concretos
é rastejando
que se ascende aos tectos?
Então vejamos
preto no branco
as cores da razão
porque a praxe eu desanco
Chapelada para SG e que o próximo álbum não tarde!
PC
terça-feira, outubro 07, 2003
Afinal Martins da Cruz também saíu.
De manhã emitiu um comunicado a dizer que não se demitia, mas a reconhecer que o serviços do seu ministério tinham tentado suscitar mudanças na lei do acesso ao ensino superior que - objectivamente, sem entrar em processos de intenções - favoreciam a sua filha. Ainda por cima, a dita proposta (mais tarde recusada pelo Ministério da Ciência) deu entrada depois do requerimento pedido pela filha de Martins da Cruz. Muitos estariam (conto-me entre eles) dispostos a dar o benefício da dúvida, mas a suspeita pairaria sempre sobre o MNE. Fez bem em sair. Aliás, com o que se percebeu hoje nem tinha alternativa. Mas insisto, se o tivesse feito ao mesmo tempo que Pedro Lynce, não lhe tinha ficado nada mal. Até se tinha evitado a salada russa de "consciências tranquilas" e "palavras de honra" finalmente desbaratadas.
PC
PC
segunda-feira, outubro 06, 2003
Tal é o sectarismo de Luís Delgado
e o seu afã de defender tudo quanto o Governo da direita faz, que acaba a desprestigiar quem quer defender. O colunista escreve no DN que Pedro Lynce se demitiu "pela pressão mediática de 36 horas" e que, reflectindo 48 se vê, claramente visto, que o ministro não tinha nada que se demitir. A lição que o Governo deve retirar do caso é, acrescenta Delgado, que tem de "ser menos reactivo aos fluxos informativos", para não "sacrificar os mais aptos".
Esta interpretação começa por ser desprestigiante para Lynce. Ao atribuir a demissão exclusivamente à pressão dos media, Luís Delgado está a negar ao ministro, automaticamente, a dignidade com que aquele assumiu as suas responsabilidades, ou, melhor dito, a falha em cumpri-las. A reacção do Governo é notícia da excepção-que-não-tinha-que-ser foi correcta (sublinhe-se que Durão Barroso nem sequer tentou demover Lynce).
Luís Delgado achava melhor que não se tivesse sabido nada? E que uma pessoa, por ser filha de um ministro (sem querer culpá-la de nada!), entrasse em Medicina enquanto milhares de alunos que tinham tanto direito como ela ao regime de excepção (ou seja, nenhum) ficavam a ver? Ou que, sabendo-se, e abdicando a filha do MNE de ocupar a vaga, todos agissem como se nada fosse? Do género "pois, isto soube-se, era mal feito, já desfizemos, ponto final"?! Não é evidente que, caso a notícia não tivesse saído, a coisa ia mesmo para a frente?!
Luís Delgado não percebeu nada, e a prova é o argumento dos "mais aptos" que evoca. A qualidade da governação de Lynce não é para aqui chamada. O ministro não sai por incompetência política, logo a sua eventual boa performance (questão que deixo de fora de propósito) não serve para criticar a demissão. Isto é aristotélico.
Resta Martins da Cruz. Há quem pense (até no PSD) que, pelos mesmos motivos - ou por simples solidariedade para com Lynce, que a merecia -, também devia ter apresentado a demissão. Não vou tão longe, acredito na palavra de honra que deu. Não gosto do MNE, mas não me choca que fique no Governo. Agora, se Martins da Cruz tivesse feito o mesmo que Pedro Lynce também não me tinha chocado nada.
PC
PS: Já depois de escrever esta posta chegou-me o Expresso, cujo director, José António Saraiva, esgrime argumentos iguais aos de Luís Delgado (ou vice-versa, já que o Expresso saíu no sábado e o DN a que me refiro na segunda-feira). Assim, o comentário vale para ambos.
Esta interpretação começa por ser desprestigiante para Lynce. Ao atribuir a demissão exclusivamente à pressão dos media, Luís Delgado está a negar ao ministro, automaticamente, a dignidade com que aquele assumiu as suas responsabilidades, ou, melhor dito, a falha em cumpri-las. A reacção do Governo é notícia da excepção-que-não-tinha-que-ser foi correcta (sublinhe-se que Durão Barroso nem sequer tentou demover Lynce).
Luís Delgado achava melhor que não se tivesse sabido nada? E que uma pessoa, por ser filha de um ministro (sem querer culpá-la de nada!), entrasse em Medicina enquanto milhares de alunos que tinham tanto direito como ela ao regime de excepção (ou seja, nenhum) ficavam a ver? Ou que, sabendo-se, e abdicando a filha do MNE de ocupar a vaga, todos agissem como se nada fosse? Do género "pois, isto soube-se, era mal feito, já desfizemos, ponto final"?! Não é evidente que, caso a notícia não tivesse saído, a coisa ia mesmo para a frente?!
Luís Delgado não percebeu nada, e a prova é o argumento dos "mais aptos" que evoca. A qualidade da governação de Lynce não é para aqui chamada. O ministro não sai por incompetência política, logo a sua eventual boa performance (questão que deixo de fora de propósito) não serve para criticar a demissão. Isto é aristotélico.
Resta Martins da Cruz. Há quem pense (até no PSD) que, pelos mesmos motivos - ou por simples solidariedade para com Lynce, que a merecia -, também devia ter apresentado a demissão. Não vou tão longe, acredito na palavra de honra que deu. Não gosto do MNE, mas não me choca que fique no Governo. Agora, se Martins da Cruz tivesse feito o mesmo que Pedro Lynce também não me tinha chocado nada.
PC
PS: Já depois de escrever esta posta chegou-me o Expresso, cujo director, José António Saraiva, esgrime argumentos iguais aos de Luís Delgado (ou vice-versa, já que o Expresso saíu no sábado e o DN a que me refiro na segunda-feira). Assim, o comentário vale para ambos.
sábado, outubro 04, 2003
A filha do Ministro e a futura médica, a ministra sueca e, claro, o cão Gastão
Brevemente: há uma regime, considerado "de excepção" - ninguém explicou porquê - que autoriza certas pessoas a entrar na Universidade, passando sobre os outros todos. Independentemente das médias que tenham tido. Curiosamente, filhos de pessoas que são nomeados para lugares de grandes ordenados e consequentes mordomias.
Mas até o "regime de excepção" pode ter excepções, dependendo do regime.
Ela pediu, ele deu parecer e remeteu ao respectivo Ministro (atenção: a palavra "ministro" quer dizer" servidor dos outros"). O Ministro viu que era uma excepção, mas "excepcionou". Ela entrou. Ia ser minha aluna daqui a 6 anos. Mas a SIC recebeu a informação - ah!, grandezas e misérias da democracia - e pôs no ar.
Viu-se o resultado: o ministro não estava de má fé, OK, mas excedeu-se. Ela, coitada, vai estudar para o estrangeiro - já não vai ser minha aluna, mas desejo-lhe uma brilhante carreira e os maiores êxitos, porque o que ela pediu estava correcto, só que devia ter sido indeferido... O pai jura que não meteu cunhas, e eu acredito na palavra de honra de um homem, mesmo não gostando muito dele. O outro, mesmo de boa fé, demitiu-se.
Ah! A democracia funciona. Um dia uma ministra social democrata sueca saíu à rua e foi comprar fraldas para a filha. Era a futura lider do partido. Ao chegar à caixa do supermercado, viu que se tinha esquecido do cartão de crédito pessoal e usou o do governo, porque a filha assim o justificava. No dia seguinte, a primeira coisa que fez foi fazer uma transferência da conta pessoal para a conta oficial, do valor das fraldas (estamos a falar de cerca de 15 euros). Soube-se. E foi forçada a demitir-se e a desistir de ser líder do partido e futura primeiro-ministro. Porquê, perguntarão... porque ceder num milímetro é o primeiro passo para ceder num metro ou num quilómetro.
Pedro Lynce fez o que devia, mas não merece, nem críticas, nem elogios. Fez... "just did".
Martins da Cruz jura que nunca meteu cunhas. Pela sua honra. Acreditemos. Que continue...
A filha pôs um requerimento. Fez o seu papel. Que não seja penalizada por isso e que seja uma grande médica, que o País precisa (se ela quiser voltar). Não vai ser minha aluna, e não sabe o que perde por não passar pelo nosso departamento...
Que lufada de ar fresco!
MC
PS: que a oposição não exagere e não aproveite o filão para colmatar as suas insuficiências e incompetências
PS2: será que Ferro teria feito o mesmo por Gastão????
Mas até o "regime de excepção" pode ter excepções, dependendo do regime.
Ela pediu, ele deu parecer e remeteu ao respectivo Ministro (atenção: a palavra "ministro" quer dizer" servidor dos outros"). O Ministro viu que era uma excepção, mas "excepcionou". Ela entrou. Ia ser minha aluna daqui a 6 anos. Mas a SIC recebeu a informação - ah!, grandezas e misérias da democracia - e pôs no ar.
Viu-se o resultado: o ministro não estava de má fé, OK, mas excedeu-se. Ela, coitada, vai estudar para o estrangeiro - já não vai ser minha aluna, mas desejo-lhe uma brilhante carreira e os maiores êxitos, porque o que ela pediu estava correcto, só que devia ter sido indeferido... O pai jura que não meteu cunhas, e eu acredito na palavra de honra de um homem, mesmo não gostando muito dele. O outro, mesmo de boa fé, demitiu-se.
Ah! A democracia funciona. Um dia uma ministra social democrata sueca saíu à rua e foi comprar fraldas para a filha. Era a futura lider do partido. Ao chegar à caixa do supermercado, viu que se tinha esquecido do cartão de crédito pessoal e usou o do governo, porque a filha assim o justificava. No dia seguinte, a primeira coisa que fez foi fazer uma transferência da conta pessoal para a conta oficial, do valor das fraldas (estamos a falar de cerca de 15 euros). Soube-se. E foi forçada a demitir-se e a desistir de ser líder do partido e futura primeiro-ministro. Porquê, perguntarão... porque ceder num milímetro é o primeiro passo para ceder num metro ou num quilómetro.
Pedro Lynce fez o que devia, mas não merece, nem críticas, nem elogios. Fez... "just did".
Martins da Cruz jura que nunca meteu cunhas. Pela sua honra. Acreditemos. Que continue...
A filha pôs um requerimento. Fez o seu papel. Que não seja penalizada por isso e que seja uma grande médica, que o País precisa (se ela quiser voltar). Não vai ser minha aluna, e não sabe o que perde por não passar pelo nosso departamento...
Que lufada de ar fresco!
MC
PS: que a oposição não exagere e não aproveite o filão para colmatar as suas insuficiências e incompetências
PS2: será que Ferro teria feito o mesmo por Gastão????
sexta-feira, outubro 03, 2003
Atenção,
que vem aí uma colecção de música francesa com Brassens, Reggiani e Gainsbourg, entre outros. Ao que parece, a cada um dos 'clássicos' é dedicada uma caixa de 3 CD's + 1 livro. Um suspiro de alívio no fim de uma semana de cão... bom fim-de-semana!
PS. ao falarmos de cão, não queríamos, de forma nenhuma, ofender o Gastão, o ícone de esquerda deste País, o libertador da Pátria, o canídeo mais famoso da história das Oposições. Gastão über alles! E o Ferro que se cuide, ou teremos um futuro PM com tracção às quatro patas!!!!
MC e PC
PS. ao falarmos de cão, não queríamos, de forma nenhuma, ofender o Gastão, o ícone de esquerda deste País, o libertador da Pátria, o canídeo mais famoso da história das Oposições. Gastão über alles! E o Ferro que se cuide, ou teremos um futuro PM com tracção às quatro patas!!!!
MC e PC
quinta-feira, outubro 02, 2003
As postas e os marretas assinalados / que de um ocidental blogue lusitano...
Ó ASL, os Marretas não estão nada desaparecidos desde sábado! Têm postado todos os dias e andam a fazer uma paródia divertidíssima aos Lusíadas do Expresso, reconheça-se com fair-play. É isso e a "frente facho-canhota anti-praxe", à qual já aderi, na ala canhota, bem entendido. A sério, vale a pena ler esta posta, e esta, e aqueloutra. Ah, e já há mais uma!
PC
PC
quarta-feira, outubro 01, 2003
Back to IC-19
João Serrano, grande amigo dos 'bloguistas da batata' e deputado municipal socialista na Amadora, recorda num comentário enviado ao Blógica a saga do tabuleiro do IC-19. Nas suas palavras, “há cerca de dois meses a estrutura pedonal ficou abalada por mais de um toque de uma grua e camião TIR”, de que o presidente da Câmara de Sintra deu conhecimento ao Instituto de Estradas de Portugal. Para reparar o tabuleiro, acusa, foi seleccionada “uma empresa com reduzida experiência de trabalhos deste tipo”, porventura por ser a de preço mais baixo. “A obra não tinha projecto, nem os necessários documentos técnicos, exigidos por lei para trabalhos de engenharia, nem plano de segurança e saúde”, acrescenta.
O Departamento de Estradas de Lisboa (DELIS) pediu apoio à Área Funcional de Obras de Arte e Estruturas Especiais, que sugeriu “a substituição da (s) viga (s) danificadas, ou em caso limite, que se fizesse um projecto de reparação”. O DELIS despachou em concordância, mas “nada foi feito”, diz João Serrano.
“Para o Sr.º Ministro Carmona Rodrigues a queda da ponte pedonal do IC19, que provocou três feridos, foi uma «situação de azar». Para este Governo é azar existir em Portugal 160 pontes com falta de manutenção e 40 em risco”, afirma João Serrano. E dá como exemplos a ponte da Goncinha, na ligação Faro-Loulé, à espera de obras desde 2001, e um relatório do Instituto de Estradas de Portugal que afirma que na ponte situada no Nó de Sandim, na EN 107, foi detectada “uma deficiência no apoio das cascas (pré-fabricadas em betão armado pré-esforçado) no pilar central que obriga a uma intervenção imediata”. “No mesmo IC-19, três pontes pedonais situadas aos quilómetro 7,9, 9,5 e 10 estão a exigir intervenção a «médio prazo». Todas elas estão apoiadas em vigas pré-fabricadas em betão armado e pré-esforçado. O acesso ao Norte de Odivelas/Ramada (perto do IC 22), deve ser observado com detalhe.” , acrescenta.
Para João Serrano, é “muito azar que este Governo tenha feito significativos cortes em pessoal e investimento no IEP, quase o desmantelando, com base na cega politica de combate ao deficit”. Os cortes no PIDDAC para o distrito de Lisboa são de 30%, e no capítulo de obras de conservação atingem os 50%. Além disso, assegura, o Governo “despediu cerca de 200 funcionários do IEP, sendo que mais de metade eram técnicos qualificados” e que “a Brigada de Conservação das Estradas para os Concelhos de Oeiras, Sintra, Cascais e Amadora, tem apenas 1 técnico (aliás à beira da reforma) quando o mínimo exigido eram 8 técnicos. Único técnico que alias não pode fazer mais de 12h extraordinárias por mês”.
Finalmente, sublinha, o Governo substituiu o presidente do IEP, Ribeiro dos Santos, por João Sousa Marques, que era vice-presidente do primeiro e tinha pedido demissão pelos mesmos motivos. João Serrano afirma que o novo presidente do IEP era responsável pela área de conservação, exploração e segurança rodoviária, pelo que "tinha sob sua responsabilidade directa as obras que decorriam na ex-ponte pedonal do IC19".
Conclusão de João Serrano: “O azar deu direito a prémio. O Governo demonstra que o seu critério é premiar a incompetência e a irresponsabilidade. O verdadeiro azar dos portugueses é terem este Governo”.
(editado por PC)
O Departamento de Estradas de Lisboa (DELIS) pediu apoio à Área Funcional de Obras de Arte e Estruturas Especiais, que sugeriu “a substituição da (s) viga (s) danificadas, ou em caso limite, que se fizesse um projecto de reparação”. O DELIS despachou em concordância, mas “nada foi feito”, diz João Serrano.
“Para o Sr.º Ministro Carmona Rodrigues a queda da ponte pedonal do IC19, que provocou três feridos, foi uma «situação de azar». Para este Governo é azar existir em Portugal 160 pontes com falta de manutenção e 40 em risco”, afirma João Serrano. E dá como exemplos a ponte da Goncinha, na ligação Faro-Loulé, à espera de obras desde 2001, e um relatório do Instituto de Estradas de Portugal que afirma que na ponte situada no Nó de Sandim, na EN 107, foi detectada “uma deficiência no apoio das cascas (pré-fabricadas em betão armado pré-esforçado) no pilar central que obriga a uma intervenção imediata”. “No mesmo IC-19, três pontes pedonais situadas aos quilómetro 7,9, 9,5 e 10 estão a exigir intervenção a «médio prazo». Todas elas estão apoiadas em vigas pré-fabricadas em betão armado e pré-esforçado. O acesso ao Norte de Odivelas/Ramada (perto do IC 22), deve ser observado com detalhe.” , acrescenta.
Para João Serrano, é “muito azar que este Governo tenha feito significativos cortes em pessoal e investimento no IEP, quase o desmantelando, com base na cega politica de combate ao deficit”. Os cortes no PIDDAC para o distrito de Lisboa são de 30%, e no capítulo de obras de conservação atingem os 50%. Além disso, assegura, o Governo “despediu cerca de 200 funcionários do IEP, sendo que mais de metade eram técnicos qualificados” e que “a Brigada de Conservação das Estradas para os Concelhos de Oeiras, Sintra, Cascais e Amadora, tem apenas 1 técnico (aliás à beira da reforma) quando o mínimo exigido eram 8 técnicos. Único técnico que alias não pode fazer mais de 12h extraordinárias por mês”.
Finalmente, sublinha, o Governo substituiu o presidente do IEP, Ribeiro dos Santos, por João Sousa Marques, que era vice-presidente do primeiro e tinha pedido demissão pelos mesmos motivos. João Serrano afirma que o novo presidente do IEP era responsável pela área de conservação, exploração e segurança rodoviária, pelo que "tinha sob sua responsabilidade directa as obras que decorriam na ex-ponte pedonal do IC19".
Conclusão de João Serrano: “O azar deu direito a prémio. O Governo demonstra que o seu critério é premiar a incompetência e a irresponsabilidade. O verdadeiro azar dos portugueses é terem este Governo”.
(editado por PC)
segunda-feira, setembro 29, 2003
Vão chegando mais comentários.
Isabel Cordeiro fala de Kumba Ialá: "Podem juntar à lista de 'qualidades' do Kumba, que não se lava e consta que cheirava tão mal que o tiveram que o lavar quando esteve internado cá!!!!"
Sobre a questão da velocidade na estrada, acrescenta: "andei por Itália e não vi nem um quinto das asneiras que vejo por cá...".
Os bloguistas da batata (que a leitora se interroga se serão 'de esquerda, de direita ou de nada', e o PC responde já que é canhoto desde que se conhece) agradecem a participação.
Sobre a questão da velocidade na estrada, acrescenta: "andei por Itália e não vi nem um quinto das asneiras que vejo por cá...".
Os bloguistas da batata (que a leitora se interroga se serão 'de esquerda, de direita ou de nada', e o PC responde já que é canhoto desde que se conhece) agradecem a participação.
O artigo de hoje
de Eduardo Prado Coelho no Público defende que as coisas estavam melhores para o Governo no início do Verão do que agora. Depois de inventariar, pertinentemente, os disparates estivais de Durão y sus muchachos, o professor conclui:
"É por isso que a oposição surge à frente das sondagens. Seria muito difícil se tal não acontecesse depois de um verão tão calamitoso."
Vamos dar de barato que EPC tem razão, que o panorama é pior para o Governo, que podemos fiar-nos nas sondagens (de resto, super-oscilantes nos últimos meses). A última frase do artigo - a que citei - é e continua a ser decepcionante. Destila um conformismo não inédito nas oposições em geral, independentemente de quem está no poder, e que até tem um paralelo com a subida da direita ao poder após o suicídio colectivo a que Guterres obrigou os socialistas.
EPC está todo contente porque, na sequência de erros crassos do Governo, o PS aparece à frente (por uma unha negra) numa sondagem. Ora EPC foi um dos "novos militantes" apresentados com pompa e circunstância pelo PS quando começou (?) a renascer das cinzas e a mostrar (?) que aprendia com os erros do passado. Nem que seja só por isso, falta uma frase ao último parágrafo do artigo:
"Seria muito melhor se tal acontecesse por mérito do PS e se este fosse, de facto, uma alternativa credível de poder."
PC
"É por isso que a oposição surge à frente das sondagens. Seria muito difícil se tal não acontecesse depois de um verão tão calamitoso."
Vamos dar de barato que EPC tem razão, que o panorama é pior para o Governo, que podemos fiar-nos nas sondagens (de resto, super-oscilantes nos últimos meses). A última frase do artigo - a que citei - é e continua a ser decepcionante. Destila um conformismo não inédito nas oposições em geral, independentemente de quem está no poder, e que até tem um paralelo com a subida da direita ao poder após o suicídio colectivo a que Guterres obrigou os socialistas.
EPC está todo contente porque, na sequência de erros crassos do Governo, o PS aparece à frente (por uma unha negra) numa sondagem. Ora EPC foi um dos "novos militantes" apresentados com pompa e circunstância pelo PS quando começou (?) a renascer das cinzas e a mostrar (?) que aprendia com os erros do passado. Nem que seja só por isso, falta uma frase ao último parágrafo do artigo:
"Seria muito melhor se tal acontecesse por mérito do PS e se este fosse, de facto, uma alternativa credível de poder."
PC
domingo, setembro 28, 2003
An apple a day keeps the doctor away
E há vários tipos de maçãs, desde as reais às do espírito.
Find your degree of freedom for today.
Boa semana e boa mordidela.
MC
Find your degree of freedom for today.
Boa semana e boa mordidela.
MC
sábado, setembro 27, 2003
O cão mordeu o dono ou o dono mordeu o cão?
Ao ler os jornais dos últimos dias, fica-se com uma sensação boa. Tudo parece estar resolvido. Do lado do Governo, tranquilidade, mesmo quando cai um viaduto no IC19 (a culpa não terá sido do macaco, como no filme dos irmãos Marx... Marx? Ah!, Não é o Karl...), mas sim de uma borboleta..., mesmo quando um helicóptero destinado a combater o flagelo dos incêndios (que nós pagaremos e dos quais alguns terão benefício) andava a fazer turismo pela (lindíssima) região do Douro, a expensas do contribuinte e das árvores que, entretanto, "derretiam".
Outros exemplos se poderiam dar, como os mortos que (não) existiram com a onda de calor, como o (in)sucesso dos hospitais SA, como o Disco de Urso, digo, discurso do Senhor Ministro da Defesa, que nos pretende defender dos terríveis emigrantes de Leste, do Oeste, do Norte e do Sul, esquecendo-se dos 4 milhões de tugas que estão nos outros países a fazer o que ele diz que os outros fazem cá... e que não aprova. Que continue a dormir descansado e com sonhos felizes, a technicolor, com a Catherine Deneuve "na protagonista". Tudo vai bem, portanto, pelo lado do Governo.
E a Oposição? Mais "regae" do que "reage"... e o assunto do dia, da semana e do mês é: "taram, taram", quem diria: o desaparecimento do cão do Senhor Secretário Geral do PS. Gastão, de seu nome, resolveu dar uma curva, quem sabe entusiasmou-se com alguma cadela, foi atraído pelos dealers (não, não escrevi "leaders", que isto da dislexia computacional até faz coisas engraçadas...), até se poderá pensar ter sido raptado por algum pedófilo mal intencionado, no decurso de mais uma escuta, pá, telefónica, pá.
E, assim, o mistério e a saga do "Gastão, volta que estás perdoado", ocupou as páginas dos jornais e a atenção dos portugueses. Até terá havido alguns, mesmo entre os fiéis do Dr. Barroso, que não conseguiram evitar uma lágrima furtiva. Gastão, nome de "sobrinho sortudo do Tio Patinhas", voltou para casa. Para casa do Dr. Ferro, que mais parece o Pato Donald, de tanto azar... ou o Peninha, de tanta falta de jeito. Quando o assunto principal do PS é saber "onde pára o canídeo", confesso que fico a pensar se a Oposição não estará, com o devido respeito ao Gastão, "abaixo de cão". Já imagino o Dr. Ferro num sítio com espaço, a criar labradores, huskies e animais afins, a fazer discretamente um anúncio para uma conhecida marca de enlatados para animais...
Assim vamos nós: a borboleta preocupa o Governo, o cão preocupa a Oposição. Será que a política está reservada aos animais?
E já agora, uma pequena pergunta: alguém sentiu a diferença? Alguém sentiu a falta? Alguém sentiu que "não tínhamos Oposição"? Parafraseando um anúncio televisivo: "Se o meu PS está bem, eu também...".
Dr. Durão Barroso: que totoloto lhe saíu na rifa... (não, não escrevi "totó tolo")...
MC
Outros exemplos se poderiam dar, como os mortos que (não) existiram com a onda de calor, como o (in)sucesso dos hospitais SA, como o Disco de Urso, digo, discurso do Senhor Ministro da Defesa, que nos pretende defender dos terríveis emigrantes de Leste, do Oeste, do Norte e do Sul, esquecendo-se dos 4 milhões de tugas que estão nos outros países a fazer o que ele diz que os outros fazem cá... e que não aprova. Que continue a dormir descansado e com sonhos felizes, a technicolor, com a Catherine Deneuve "na protagonista". Tudo vai bem, portanto, pelo lado do Governo.
E a Oposição? Mais "regae" do que "reage"... e o assunto do dia, da semana e do mês é: "taram, taram", quem diria: o desaparecimento do cão do Senhor Secretário Geral do PS. Gastão, de seu nome, resolveu dar uma curva, quem sabe entusiasmou-se com alguma cadela, foi atraído pelos dealers (não, não escrevi "leaders", que isto da dislexia computacional até faz coisas engraçadas...), até se poderá pensar ter sido raptado por algum pedófilo mal intencionado, no decurso de mais uma escuta, pá, telefónica, pá.
E, assim, o mistério e a saga do "Gastão, volta que estás perdoado", ocupou as páginas dos jornais e a atenção dos portugueses. Até terá havido alguns, mesmo entre os fiéis do Dr. Barroso, que não conseguiram evitar uma lágrima furtiva. Gastão, nome de "sobrinho sortudo do Tio Patinhas", voltou para casa. Para casa do Dr. Ferro, que mais parece o Pato Donald, de tanto azar... ou o Peninha, de tanta falta de jeito. Quando o assunto principal do PS é saber "onde pára o canídeo", confesso que fico a pensar se a Oposição não estará, com o devido respeito ao Gastão, "abaixo de cão". Já imagino o Dr. Ferro num sítio com espaço, a criar labradores, huskies e animais afins, a fazer discretamente um anúncio para uma conhecida marca de enlatados para animais...
Assim vamos nós: a borboleta preocupa o Governo, o cão preocupa a Oposição. Será que a política está reservada aos animais?
E já agora, uma pequena pergunta: alguém sentiu a diferença? Alguém sentiu a falta? Alguém sentiu que "não tínhamos Oposição"? Parafraseando um anúncio televisivo: "Se o meu PS está bem, eu também...".
Dr. Durão Barroso: que totoloto lhe saíu na rifa... (não, não escrevi "totó tolo")...
MC
quinta-feira, setembro 25, 2003
Hoje é um dia triste
porque morreu Edward W. Said. Catedrático, musicólogo e ensaísta, nascido na Palestina, Said faleceu esta manhã em Nova Iorque, aos 67 anos, de leucemia. O Mundo perde um dos seus mais brilhantes intelectuais. Professor de Literatura Comparada na Universidade de Columbia, Edward Said destacou-se, entre outras coisas, na defesa de um estado Palestino, mas nunca hesitou em condenar o terrorismo suicida contra Israel. Era um dos maiores críticos palestinos de Yasser Arafat.
Com o maestro israelita Daniel Barenboim, Edward Said criou o West Eastern Divan, uma orquestra de músicos de todos os países do Médio Oriente. Espanha concedeu-lhes, ex-aequo, o prémio Príncipe de Astúrias da Concórdia em 2002. Aqui ficam três linques três sobre a obra de Said, com bibliografia, críticas, etc. Por fim, uma entrevista com este homem a quem presto homenagem.
PC
Com o maestro israelita Daniel Barenboim, Edward Said criou o West Eastern Divan, uma orquestra de músicos de todos os países do Médio Oriente. Espanha concedeu-lhes, ex-aequo, o prémio Príncipe de Astúrias da Concórdia em 2002. Aqui ficam três linques três sobre a obra de Said, com bibliografia, críticas, etc. Por fim, uma entrevista com este homem a quem presto homenagem.
PC
Este sim
é um post muito acertado... e os leitores que desculpem por levarem com o Portas outra vez!
PC
PC
Truca-truca
Patrícia Cordeiro recorda, a propósito de Portas e da Constituição, um dos muitos debates parlamentares sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez -
concretamente, o de 3 de Março de 1982. Diz a leitora que "já há 21 anos era urgentíssimo fazer-se um updating da Lei Fundamental! Mudam as moscas mas o resto fica!". Acrescenta depois um poema de Natália Correia, publicado no DN após o dito debate. Trata-se da célebre resposta da poetisa ao deputado do CDS João Morgado, que afirmou que "O acto sexual é para fazer filhos". Cá vai:
«Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca,
sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada esse excepção,
ficou capado o Morgado.»
concretamente, o de 3 de Março de 1982. Diz a leitora que "já há 21 anos era urgentíssimo fazer-se um updating da Lei Fundamental! Mudam as moscas mas o resto fica!". Acrescenta depois um poema de Natália Correia, publicado no DN após o dito debate. Trata-se da célebre resposta da poetisa ao deputado do CDS João Morgado, que afirmou que "O acto sexual é para fazer filhos". Cá vai:
«Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca,
sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada esse excepção,
ficou capado o Morgado.»
quarta-feira, setembro 24, 2003
Floquet de Neu, Copito de Nieve ou Floco de Neve,
o gorila albino do Zoo de Barcelona, vai morrer em breve. Devido a um cancro de pele, este animal único tem três meses de vida, dizem os veterinários.
Vi Floquet há três anos. Da visita ao zoo barcelonês recordo sobretudo a qualidade baixa e o preço alto. E o gorila, claro. Esteve quase sempre de costas, tem o ar de quem está chateado que nem um peru (e como não, há trinta e tal anos a fazer de macaco mais ou menos amestrado!), mas é impressionante, porque único, pelo menos em cativeiro. Mesmo em estado selvagem, não se sabe se há mais gorilas albinos. E o galo é que o raio do Copito teve uma prole numerosa, mas nenhum dos filhos, netos e bisnetos saiu ao pai, no que toca à cor da pele.
A notícia comoveu os catalães, que o adoram. Fala-se mesmo em fazer-lhe uma estátua ou atribuir o seu nome a uma rua. Parece exagerado? Parece. Aliás, é. Mas assim são os símbolos e os mitos. E os homens.
PC
PS: Já que estamos a falar de gorilas...
Vi Floquet há três anos. Da visita ao zoo barcelonês recordo sobretudo a qualidade baixa e o preço alto. E o gorila, claro. Esteve quase sempre de costas, tem o ar de quem está chateado que nem um peru (e como não, há trinta e tal anos a fazer de macaco mais ou menos amestrado!), mas é impressionante, porque único, pelo menos em cativeiro. Mesmo em estado selvagem, não se sabe se há mais gorilas albinos. E o galo é que o raio do Copito teve uma prole numerosa, mas nenhum dos filhos, netos e bisnetos saiu ao pai, no que toca à cor da pele.
A notícia comoveu os catalães, que o adoram. Fala-se mesmo em fazer-lhe uma estátua ou atribuir o seu nome a uma rua. Parece exagerado? Parece. Aliás, é. Mas assim são os símbolos e os mitos. E os homens.
PC
PS: Já que estamos a falar de gorilas...
terça-feira, setembro 23, 2003
Pelota Vasca
é um jogo típico do País Basco. A maior parte das pessoas ouviu falar dele pela primeira vez há cerca de onze anos, durante os Jogos Olímpicos de Barcelona. Muitos provavelmente já não se lembram, mas agora surge uma boa ocasião para recordar este nome. É que acaba de estrear em Espanha La Pelota Vasca, la piel contra la piedra, um documentário interessante do realizador espanhol Julio Medem sobre o drama de Euskadi, terra que sofre diariamente a tragédia do terrorismo da ETA, puro fascismo aplicado. Donostiarra apaixonado, Medem põe no ecrã uma série de vozes díspares, entre eles vítimas da ETA e seus familiares, escritores, músicos, catedráticos, jornalistas, políticos, polícias, sacerdotes, etc. Ninguém foi deliberadamente excluído, pelo que ver o filme implica, por exemplo, dar de caras com Arnaldo Otegi, o líder do braço político da ETA, o ilegalizado Batasuna (ou Euskal Herritarrok, ou Sozialista Abertzaleak, ou Autodeterminaziorako Bilgunea, alguns dos nomes que foi utilizando). De fora, por opção dos próprios, ficaram o Partido Popular e a plataforma antiterrorista Basta Ya!, organizações de distinto mérito e valor na minha opinião (ou seja, gosto da segunda e não do primeiro). Em todo o caso, é pena que não se ouçam no documentário.
Como se calcula, o filme deu polémica em Espanha. Antes de estrear, dois catedráticos bascos que participaram no filme pediram a Medem que retirasse as suas declarações, o que o realizador recusou. O motivo, diziam, é que consideram que o documentário coloca ao mesmo nível os terroristas e os restantes cidadãos. Eu, que vi o filme, percebo que essa interpretação possa existir em dados momentos. Por exemplo, há uma sequência quase em "ping-pong" de declarações de uma viúva de uma vítima da ETA e da mulher de um etarra preso (que faz saber que a maioria está numa prisão de Huelva a quase mil quilómetros do País Basco, onde vivem as suas famílias). Compreende-se que isto choque alguns, e que possam pensar que é um igualar entre carrascos e vítimas, mas a mim o que me saltou à vista foi que a mulher do preso pode ir visitá-lo (mesmo com todos os incómodos de atravessar a península em autocarro), enquanto que a viúva de um cidadão inocente morto às mãos dos facínoras da ETA só pode recordar o seu marido com saudade.
A maior virtude do filme é não ser doutrinário. Daí que só se possa qualificar como estúpida e irresponsável a atitude da ministra da Educação espanhola, Pilar del Castillo, que criticou o filme de alto abaixo sublinhando que não o viu. O tom não é inédito no Governo de Aznar, inclusive para tratar da questão basca com os nacionalistas moderados (que, por sua vez, também estão instalados num confortável limbo entre quem mata e quem morre).
La Pelota Vasca é uma longa sequência de depoimentos curtos entrecortados por cenas do desporto que lhe dá o nome, paisagens bascas de cortar a respiração e imagens de arquivo. Algumas, de atentados da ETA, também cortam a respiração, mas por outros motivos. A sua presença no filme é crua e forte e, na minha opinião, afasta qualquer suspeita de apologia dos terroristas. Caso contrário, ter-se-ia de incluir no lote dos acusados a Amnistia Internacional, cuja representante em Espanha lembra no filme que todos os presos têm direitos, ainda que uns, devido ao hediondo das suas acções, não merçam mais do que o básico que há que assegurar a cada ser humano e que, é verdade, os próprios terroristas não respeitam.
Feitas as contas, depreende-se destes fragmentos a inquietude e o mal-estar dos bascos, que vivem momentos de uma crispação política e social como poucos. Entre a cobardia assassina dos etarras, a polémica sobre a ilegalização do Batasuna, a discussão do plano soberanista do lehendakari (chefe do Governo regional) Juan José Ibarretxe e a atitude maniqueísta do Executivo espanhol, os cidadãos vêem com pessimismo o futuro, que a esmagadora maioria deseja de paz e tranquilidade. O fim do medo é um desejo mais forte do que qualquer nacionalismo ou centralismo e Medem mostra isso muito bem. Há um apelo ao diálogo, porventura escorado numa ingenuidade em que é difícil crer a 100% mas que tem a virtude, insisto, de permitir a reflexão. E o nosso Mundo, e Euskadi, estão precisados dela!...
PC
PS: Coisas para ler sobre isto (atenção que são cinco linques diferentes).
Como se calcula, o filme deu polémica em Espanha. Antes de estrear, dois catedráticos bascos que participaram no filme pediram a Medem que retirasse as suas declarações, o que o realizador recusou. O motivo, diziam, é que consideram que o documentário coloca ao mesmo nível os terroristas e os restantes cidadãos. Eu, que vi o filme, percebo que essa interpretação possa existir em dados momentos. Por exemplo, há uma sequência quase em "ping-pong" de declarações de uma viúva de uma vítima da ETA e da mulher de um etarra preso (que faz saber que a maioria está numa prisão de Huelva a quase mil quilómetros do País Basco, onde vivem as suas famílias). Compreende-se que isto choque alguns, e que possam pensar que é um igualar entre carrascos e vítimas, mas a mim o que me saltou à vista foi que a mulher do preso pode ir visitá-lo (mesmo com todos os incómodos de atravessar a península em autocarro), enquanto que a viúva de um cidadão inocente morto às mãos dos facínoras da ETA só pode recordar o seu marido com saudade.
A maior virtude do filme é não ser doutrinário. Daí que só se possa qualificar como estúpida e irresponsável a atitude da ministra da Educação espanhola, Pilar del Castillo, que criticou o filme de alto abaixo sublinhando que não o viu. O tom não é inédito no Governo de Aznar, inclusive para tratar da questão basca com os nacionalistas moderados (que, por sua vez, também estão instalados num confortável limbo entre quem mata e quem morre).
La Pelota Vasca é uma longa sequência de depoimentos curtos entrecortados por cenas do desporto que lhe dá o nome, paisagens bascas de cortar a respiração e imagens de arquivo. Algumas, de atentados da ETA, também cortam a respiração, mas por outros motivos. A sua presença no filme é crua e forte e, na minha opinião, afasta qualquer suspeita de apologia dos terroristas. Caso contrário, ter-se-ia de incluir no lote dos acusados a Amnistia Internacional, cuja representante em Espanha lembra no filme que todos os presos têm direitos, ainda que uns, devido ao hediondo das suas acções, não merçam mais do que o básico que há que assegurar a cada ser humano e que, é verdade, os próprios terroristas não respeitam.
Feitas as contas, depreende-se destes fragmentos a inquietude e o mal-estar dos bascos, que vivem momentos de uma crispação política e social como poucos. Entre a cobardia assassina dos etarras, a polémica sobre a ilegalização do Batasuna, a discussão do plano soberanista do lehendakari (chefe do Governo regional) Juan José Ibarretxe e a atitude maniqueísta do Executivo espanhol, os cidadãos vêem com pessimismo o futuro, que a esmagadora maioria deseja de paz e tranquilidade. O fim do medo é um desejo mais forte do que qualquer nacionalismo ou centralismo e Medem mostra isso muito bem. Há um apelo ao diálogo, porventura escorado numa ingenuidade em que é difícil crer a 100% mas que tem a virtude, insisto, de permitir a reflexão. E o nosso Mundo, e Euskadi, estão precisados dela!...
PC
PS: Coisas para ler sobre isto (atenção que são cinco linques diferentes).
domingo, setembro 21, 2003
Da minha janela
Da minha janela vejo a fonte, a água que corre, como um rio que não esgota, nem no estio mais quente, na seca mais pungente, na morte e na derrota.
Da minha janela vejo a fonte. Estrepitosa, com fragor, mas apenas a um tom - ou multicolor? depende do olhar -, água a jorros, num imenso murmúrio, vejo a fonte como vejo a vida, ininterrupta, inesgotável, incomparável, decidida.
Da minha janela vejo a fonte, que brota a todo o custo, qual criança. Forte, mas mansa. Rebelde e respeitosa.
A Fonte Luminosa.
MC
Da minha janela vejo a fonte. Estrepitosa, com fragor, mas apenas a um tom - ou multicolor? depende do olhar -, água a jorros, num imenso murmúrio, vejo a fonte como vejo a vida, ininterrupta, inesgotável, incomparável, decidida.
Da minha janela vejo a fonte, que brota a todo o custo, qual criança. Forte, mas mansa. Rebelde e respeitosa.
A Fonte Luminosa.
MC
sábado, setembro 20, 2003
Patriotice
Pode parecer estúpido, mas adorei encontrar Super Bock à venda em Jerez de la Frontera, ainda por cima barata. Foi no bar "Los dos deditos", a que os de cá chamam "Tú litél fíngérs". Não é que a cerveja espanhola seja má (grave, grave é a situação do café e do pão), mas não há como o sabor a malte da nossa velha e medalhada Super Bock. Desculpem os que preferem a concorrência, e juro que não sou accionista da Unicer, mas para mim Sagres há-de ser sempre o nome de um navio muito bonito, não da substância mais apetecida numa noite de Verão. Deixo para mais logo o recopilatório de sensações que pode dar uma descida à Andaluzia, com praia e tudo, para quem habitualmente está no centro da península... que saudades do mar!!!
PC
PC
Primeiro comentário recebido!!! Obrigado pela coragem e pela confiança!
Chegou-nos de Miguel Salema Garção e diz o seguinte:
"Isto é a esquerda a funcionar. Acabem com os Blogs. Um em madrid, na capital de franco a defender Louçã e Miguel Portas. Outro em Lisboa a brincar aos computadores em vez de dar atenção às criancinhas.
Portugal está em perigo..."
Mais uma vez obrigado, e que venham mais!
"Isto é a esquerda a funcionar. Acabem com os Blogs. Um em madrid, na capital de franco a defender Louçã e Miguel Portas. Outro em Lisboa a brincar aos computadores em vez de dar atenção às criancinhas.
Portugal está em perigo..."
Mais uma vez obrigado, e que venham mais!
sexta-feira, setembro 19, 2003
Números muito mal engendrados...
De repente, os epidemiologistas e estatistas são surpreendidos com dados referentes aos óbitos por maus-tratos em crianças, em Portugal. Como é possível, perguntamos, saber com tanta certeza e, ainda por cima, comparar países que têm metodologias e até sistemas de classificações diferentes uns dos outros? Milagre? Não. É que os "investigadores" limitaram-se a pôr no mesmo saco o que é diferente e o que desconhecem.
Diz o Público que "Os investigadores partiram do pressuposto que, no caso das mortes "indeterminadas", se não é estabelecida qualquer outra causa, então a morte é "provavelmente" consequência de maus tratos, "ainda que tal não tenha sido possível provar em tribunal". Ou seja, a síndroma da morte súbita do lactente, de que Portugal tem tão poucos casos, os maus-tratos, os acidentes, as situações de overdose, suicídio e homicídio nos adolescentes, as situações de doença aguda que não foi suficientemente esclarecida, etc, etc, é tudo maus tratos, "mesmo não se podendo provar em Tribunal"?
Passámos de um país onde "não havia maus tratos", para um país onde, de repente "tudo é mau trato". Trata-se de uma visão pouco rigorosa, nada científica e muito parola, devo dizer, da situação.
Sabemos que há maus tratos em Portugal, e sabemos que a taxa de mortalidade, para alguns casos de maus tratos, é elevada. Logo, deverão existir casos de mortes por maus tratos no nosso País. Até aí tudo bem. Quantos? Ninguém sabe. E o que o Público e demais têm que exigir é que, perante qualquer caso menos claro, dúbio ou indeterminado de morte sejam imediatamente abertos dois processos: um médico, que deverá ir às últimas consequências, aproveitando tudo o que serve para fazer diagnósticos nos vivos (TACs, ressonâncias magnéticas, etc), e um inquérito criminológico.
Enquanto em Inglaterra isso é comum, aqui acha-se que "os pais já estão em grande sofrimento para a polícia entrar lá em casa ou os médicos começarem a fazer perguntas". Nada de mais falso. Se houve crime, tem que ser identificado, Se não houve, o inquérito trará aos pais a necessária certeza e a paz interior que necessitam. A ideia de que "com um morto não se gasta dinheiro em exames porque já morreu" é, também ela, tonta e pode ajudar a encobrir criminosos.
Por outro lado, o que me assusta mais nas estatísticas apresentadas ontem, não é a rubrica "sintomas e afecções mal definidos", é a alínea E46 da Classificação 9 da OMS- "não se sabe se foi acidente ou homicídio". Que tantas crianças morram sem se saber esta "pequena" diferença é que, em pleno 2003, me causa alguns calafrios, como médico de saúde pública e como cidadão...
MC
Diz o Público que "Os investigadores partiram do pressuposto que, no caso das mortes "indeterminadas", se não é estabelecida qualquer outra causa, então a morte é "provavelmente" consequência de maus tratos, "ainda que tal não tenha sido possível provar em tribunal". Ou seja, a síndroma da morte súbita do lactente, de que Portugal tem tão poucos casos, os maus-tratos, os acidentes, as situações de overdose, suicídio e homicídio nos adolescentes, as situações de doença aguda que não foi suficientemente esclarecida, etc, etc, é tudo maus tratos, "mesmo não se podendo provar em Tribunal"?
Passámos de um país onde "não havia maus tratos", para um país onde, de repente "tudo é mau trato". Trata-se de uma visão pouco rigorosa, nada científica e muito parola, devo dizer, da situação.
Sabemos que há maus tratos em Portugal, e sabemos que a taxa de mortalidade, para alguns casos de maus tratos, é elevada. Logo, deverão existir casos de mortes por maus tratos no nosso País. Até aí tudo bem. Quantos? Ninguém sabe. E o que o Público e demais têm que exigir é que, perante qualquer caso menos claro, dúbio ou indeterminado de morte sejam imediatamente abertos dois processos: um médico, que deverá ir às últimas consequências, aproveitando tudo o que serve para fazer diagnósticos nos vivos (TACs, ressonâncias magnéticas, etc), e um inquérito criminológico.
Enquanto em Inglaterra isso é comum, aqui acha-se que "os pais já estão em grande sofrimento para a polícia entrar lá em casa ou os médicos começarem a fazer perguntas". Nada de mais falso. Se houve crime, tem que ser identificado, Se não houve, o inquérito trará aos pais a necessária certeza e a paz interior que necessitam. A ideia de que "com um morto não se gasta dinheiro em exames porque já morreu" é, também ela, tonta e pode ajudar a encobrir criminosos.
Por outro lado, o que me assusta mais nas estatísticas apresentadas ontem, não é a rubrica "sintomas e afecções mal definidos", é a alínea E46 da Classificação 9 da OMS- "não se sabe se foi acidente ou homicídio". Que tantas crianças morram sem se saber esta "pequena" diferença é que, em pleno 2003, me causa alguns calafrios, como médico de saúde pública e como cidadão...
MC
quinta-feira, setembro 18, 2003
A morte das ideologias...
1º ponto: Alguém decretou a morte das ideologias ou, pior, que as ideologias estavam mortas. Não há como um blog para desfazer o equívoco e desmistificar a questão. Os nossos filhos têm que saber que não se vive sem ideologias, que não se sobrevive sem força motriz. Temos que lhes dizer que a morte das ideologias seria a morte da humanidade, da criatividade, dos valores estéticos e éticos. Para que possamos ainda acreditar, no futuro, que uma simples pedra pode vir a transformar-se numa catedral gótica, uma folha de papel num livro de António Gedeão... ou um dia bonito num momento simples de prazer e de tranquilidade.
2º ponto: se é verdade que as ideologias não morreram, também não é mentira que muitos deturparam as ideologias, vivendo à sua sombra e nas antípodas dos seus valores. E aproveitaram-se do rótulo para fazer todo o tipo de "patifarias", algumas delas nauseantes e nauseabundas. Este viver ad latere do que apregoam, especialmente quando pertencem ou representam "lideranças de opinião", faz o cidadão comum desconfiar... não das pessoas, mas do idealismo ou dos ideais. E das ideologias, por arrasto.
Seria bom sermos um pouco mais reflexivos neste assunto, talvez menos tolerantes com certas coisas, e menos complacentes com outras tantas. ´~E uma reflecão de um fim de tarde de calor, à espera do fresco da noite e da discussão do dia seguinte.
MC
2º ponto: se é verdade que as ideologias não morreram, também não é mentira que muitos deturparam as ideologias, vivendo à sua sombra e nas antípodas dos seus valores. E aproveitaram-se do rótulo para fazer todo o tipo de "patifarias", algumas delas nauseantes e nauseabundas. Este viver ad latere do que apregoam, especialmente quando pertencem ou representam "lideranças de opinião", faz o cidadão comum desconfiar... não das pessoas, mas do idealismo ou dos ideais. E das ideologias, por arrasto.
Seria bom sermos um pouco mais reflexivos neste assunto, talvez menos tolerantes com certas coisas, e menos complacentes com outras tantas. ´~E uma reflecão de um fim de tarde de calor, à espera do fresco da noite e da discussão do dia seguinte.
MC
quarta-feira, setembro 17, 2003
terça-feira, setembro 16, 2003
Partidos na net
Ontem, ao comentar um post do blogue de Daniel Oliveira, referi-me ao Bloco de Esquerda. Aproveito para chamar a atenção para a excelente qualidade da página deste partido na net, recentemente renovada. O PSD e o PS também têm páginas na net, menos atraentes e sem o ritmo de actualização do Bloco e do PCP, que foi, aliás, o primeiro a instalar-se no cyberespaço. A título de curiosidade, acrescento que também o Partido da Terra, o MRPP, os Verdes, o PSR (também aqui) e até o POUS da Carmelinda estão na net. Também encontrei a FER, que pensei que já não existia mas afinal faz parte do BE; um movimento que defende a unificação de Portugal e da Galiza; e um tal de Partido Liberal que só tem existência virtual. Deixo para o fim a extrema-direita: têm umas belas páginas o PNR e o partido do Monteiro. Caso mais estranho - e a meu ver vergonhoso - é o de um outro partido, que às vezes é de direita e outras de extrema-direita, que até faz parte do Governo, e cuja página está assim há meses e meses. Será que têm apenas parte dos neurónios a funcionar?!
PC
PC
segunda-feira, setembro 15, 2003
O último argumento dos camelos: A velocidade nas auto-estradas alemãs...
Apesar da hecatombe e da "guerra civil" que vai nas estradas portuguesas, os argumentos continuam a ser quase "minimalistas", centrando-se muitas vezes na questão da velocidade nas auto-estradas, como se não morressem peões, dentro ou fora da passadeira, motociclistas trucidados nas curvas de saída das estradas, condutores de bicicletas sem capacete, passageiros mal transportados, etc, etc. A questão da "velocidade" é crucial para os portugueses, para quem o seu "sofá com rodas" é, não um vulgar meio de transporte, mas uma terapêutica para a "disfunção eréctil psicológica".
Mas voltando ao problema da velocidade, é sempre atirado à cara o "exemplo alemão" - que se pode andar como se quer, que é "só velocidade", etc".
Em primeiro lugar, os que tanto defendem essa "ideia alemã" nunca falam em todo o restante controlo e inflexibilidade que existe relativamente ao cumprimento do Código da Estrada - na Alemanha, parar o carro em segunda mão, ligar os 4 piscas e ir comprar o jornal ou buscar a criança à escola não representa uma infracção mas duas: paragem ilícita e uso ilícito de uma sinalização de urgência... na Alemanha, andar com passageiros mal transportados equivale a uma multa pesada. Na Alemanha respeitam-se os sinais, respeitam-se as motorizadas, respeitam-se os outros. E, ainda assim, nem sequer é o paradigma da segurança - os nórdicos, a Holanda, o Reino Unido e tantos outros estão melhores, e nesses países existe limitação de velocidade nas auto-estradas (120 na Finlândia e Holanda, 110 na Suécia, 112 no Reino Unido (porque medido em milhas), 100 na Dinamarca, 90 na Noruega. Além disso, a velocidade nas auto-estradas alemãs não é assim tão "à balda" como se pode pensar: existe um limite recomendado de 130, e quem o ultrapassar fá-lo por sua conta e risco - se uma pessoa tiver um acidente, a velocidade superior a 130, poderá não ter direito a nenhuma indemnização do outro automóvel, mesmo se a culpa for do outro! É pena que nunca se fale destes aspectos e só se mencione "a velocidade ilimitada nas auto-estradas". Mas ainda há mais: por pressão dos ecologistas e por causa dos problemas ambientais, tomados como importantes em países "civilizados" e que respeitam as pessoas, como a Alemanha, há uma sensibilidade social e política crescente no sentido de reduzir a velocidade nas auto-estradas, dado que um automóvel a 180 polui muitíssimo mais do que um a 120. é pena que não se fale disso, neste país de brandos costumes e de "estássecagandismo militante".
O Presidente da Associação de Escolas de Condução (de uma das associações, convém dizer, porque há mais, e mais representativas), defende que andar a alta velocidade reduz o risco de sonolência. Mas esquece-se de mencionar que viajar não é só conduzir - é programar a viagem e, por exemplo, parar nas áreas de serviço ou de duas em duas horas, para descansar - é recomendado por toda a gente, mas para alguns automobilistas só existe "a velocidade"... e os sedativos, os hipnóticos, os anti-histamínicos? E as drogas, leves e pesadas? E as drogas legais, como o "velho" álcool??
Reduzir tudo à "velocidade nas auto-estradas" é um insulto às seis pessoas que morreram hoje nas ruas e estradas - fossem eles vítimas ou criminosos.
MC
Mas voltando ao problema da velocidade, é sempre atirado à cara o "exemplo alemão" - que se pode andar como se quer, que é "só velocidade", etc".
Em primeiro lugar, os que tanto defendem essa "ideia alemã" nunca falam em todo o restante controlo e inflexibilidade que existe relativamente ao cumprimento do Código da Estrada - na Alemanha, parar o carro em segunda mão, ligar os 4 piscas e ir comprar o jornal ou buscar a criança à escola não representa uma infracção mas duas: paragem ilícita e uso ilícito de uma sinalização de urgência... na Alemanha, andar com passageiros mal transportados equivale a uma multa pesada. Na Alemanha respeitam-se os sinais, respeitam-se as motorizadas, respeitam-se os outros. E, ainda assim, nem sequer é o paradigma da segurança - os nórdicos, a Holanda, o Reino Unido e tantos outros estão melhores, e nesses países existe limitação de velocidade nas auto-estradas (120 na Finlândia e Holanda, 110 na Suécia, 112 no Reino Unido (porque medido em milhas), 100 na Dinamarca, 90 na Noruega. Além disso, a velocidade nas auto-estradas alemãs não é assim tão "à balda" como se pode pensar: existe um limite recomendado de 130, e quem o ultrapassar fá-lo por sua conta e risco - se uma pessoa tiver um acidente, a velocidade superior a 130, poderá não ter direito a nenhuma indemnização do outro automóvel, mesmo se a culpa for do outro! É pena que nunca se fale destes aspectos e só se mencione "a velocidade ilimitada nas auto-estradas". Mas ainda há mais: por pressão dos ecologistas e por causa dos problemas ambientais, tomados como importantes em países "civilizados" e que respeitam as pessoas, como a Alemanha, há uma sensibilidade social e política crescente no sentido de reduzir a velocidade nas auto-estradas, dado que um automóvel a 180 polui muitíssimo mais do que um a 120. é pena que não se fale disso, neste país de brandos costumes e de "estássecagandismo militante".
O Presidente da Associação de Escolas de Condução (de uma das associações, convém dizer, porque há mais, e mais representativas), defende que andar a alta velocidade reduz o risco de sonolência. Mas esquece-se de mencionar que viajar não é só conduzir - é programar a viagem e, por exemplo, parar nas áreas de serviço ou de duas em duas horas, para descansar - é recomendado por toda a gente, mas para alguns automobilistas só existe "a velocidade"... e os sedativos, os hipnóticos, os anti-histamínicos? E as drogas, leves e pesadas? E as drogas legais, como o "velho" álcool??
Reduzir tudo à "velocidade nas auto-estradas" é um insulto às seis pessoas que morreram hoje nas ruas e estradas - fossem eles vítimas ou criminosos.
MC
O que é que tem o Guterres que é diferente dos outros (para pior)?
Daniel Oliveira reflecte no seu Barnabé sobre António Guterres e que futuro pode ter na cena política à esquerda. Gabo-lhe o estômago e concordo com o que diz, até porque sou dos que acham que dificilmente pode ter futuro à esquerda um homem que não tem nela passado nem presente (já sei que é presidente da Internacional Socialista, mas tenho esse facto em conta de aberração). Chapelada para o Daniel e para o seu belíssimo blogue, diferente dos outros porque único, como se desejam todos, diferente de muita esquerda 'calhorda', como diria JPH, e sem alguns dislates que por vezes se ouvem a membros do seu partido. Viva o Barnabé, que é para a gente arribar!
PC
PC
Em casa???
Leio no Público on-line que Kumba Ialá "já está em casa". Mas não começam hoje as aulas? Querem ver que esse menino malcriado, arrogante, que rouba os brinquedos aos outros e não partilha os deles, que agride e sova os bebés de quem não gosta, que fala mal e escreve pior, que é mimado e prepotente, não vai à escola? Assim não haverá hipótese de o rapazinho se "inducar"...
MC
MC
O CDS e a Constituição
O CDS acha urgente rever a Constituição, porque ao fim de cinco revisões a Lei Fundamental ainda permite interpretações que autorizam os comunistas a comer criancinhas ao pequeno-almoço (sem piada de mau-gosto). Mas o CDS não vai apresentar um projecto de revisão próprio. Delega no mano crescido, o PSD. É que apesar de urgente, o assunto da revisão constitucional não vai escapar aos habituais movimentos ululantes de Portas ao sabor das conveniências: como só dá para rever a Constituição se houver acordo entre PSD e PS, e o PS (que para Portas paira em limbos ou infernos não distantes do PCP) não aprovaria as propostas do CDS, este prefere não apresentar nada a votar vencido e ficar fora do arco. Tal é o medo de tudo quanto possa pôr em risco alianças pré-eleitorais nas próximas eleições e obrigar o CDS a ir a votos sozinho e provar quanto vale... quais convicções!, mais urgente que a Constituição é ir garantindo a permanência num Governo onde o seu contributo específico se vê mais num discurso de quasi-ódio (direitos sociais), protagonismo e birras pessoais (Defesa, missa do Maggiolo, Cruz Vermelha), ou então mal se vê (Justiça). Ai se o PSD chega ao fim da legislatura convencido de que pode ter maioria sozinho... ai, ai! Para já não falar do intragável discurso sobre imigração e emprego, de que JPP fala aqui. Tudo isto somado, ponho-me a pensar na história do assento do táxi e já não sei bem... se o traseiro tivesse uma propietária bonita...
PC
PC
A última bola
O entusiasmo cedeu lugar à inquietação, e desta para a irritação, passando pelo desespero, foi um ápice. Ficamos, passadas doze horas, amarrados a um outro sentimento: frustração... e também conformação, quem sabe?
A ganhar 3-1 aos 89 minutos, só uma grande equipa conseguiria empatar o jogo. Grande foi, portanto, o Belenenses, que porfiou até matar a caça. Quanto ao Glorioso, seu Camacho e respectivo plantel, não há palavras. E as que hipoteticamente existam não são próprias, nem para blogs brejeiros. 4 minutos do tempo de desconto que, teoricamente, teria 4 minutos. Um canto contra o Benfica, teoricamente, o último do jogo, cedido depois de uma jogada "apertada". Não seria "blógico" que fosse os onze encarnados para a pequena área? Não... Ficaram a "ver a bola", a respirar o ar morno do início da noite, e a ver Marte, que tem estado excepcionalmente brilhante. E a comer pastéis de Belém - três -, o último dos quais, de sabor bem amargo.
Sic transit gloriae mundi - e a pergunta é só uma: como é que foi possível não ir tudo defender aquela que sabiam ser "a última bola"?
MC
A ganhar 3-1 aos 89 minutos, só uma grande equipa conseguiria empatar o jogo. Grande foi, portanto, o Belenenses, que porfiou até matar a caça. Quanto ao Glorioso, seu Camacho e respectivo plantel, não há palavras. E as que hipoteticamente existam não são próprias, nem para blogs brejeiros. 4 minutos do tempo de desconto que, teoricamente, teria 4 minutos. Um canto contra o Benfica, teoricamente, o último do jogo, cedido depois de uma jogada "apertada". Não seria "blógico" que fosse os onze encarnados para a pequena área? Não... Ficaram a "ver a bola", a respirar o ar morno do início da noite, e a ver Marte, que tem estado excepcionalmente brilhante. E a comer pastéis de Belém - três -, o último dos quais, de sabor bem amargo.
Sic transit gloriae mundi - e a pergunta é só uma: como é que foi possível não ir tudo defender aquela que sabiam ser "a última bola"?
MC
Kumba Yalá, my lord, Kumba Yalá
Depuseram o Kumba, presidente da República da Guiné-Bissau desde 2000. Quando foi eleito, as expectativas nem eram más. Passados três anos, cinco primeiros-ministros e mais de 50 membros do Governo (sim, porque Kumba demitia gente como quem muda de cuecas), já ninguém tinha ilusões, como bem assinala Nuno Pacheco no editorial de hoje do Público. Tanto que as condenações internacionais se resumiram à formalidade de dizer que o poder não se conquista pelas armas, e que não se derrubam governos democraticamente eleitos (como era o de Kumba) com golpes de Estado, mas sempre com o reconhecimento implícito de que poucas alternativas restavam. Fica como dado positivo o não ter havido derramamento de sangue, a reiterada intenção de não promover caças às bruxas, a promessa (a vigiar) de que haverá um Governo de unidade nacional inteiramente constituído por civis e de que se realizarão eleições. Só este ano, Kumba adiou-as por quatro vezes. Esperemos que a Guiné-Bissau, país adiado há 28 anos e um dos mais pobres do mundo, encontre finalmente um caminho. Pelo modo como vai o Mundo, não apetece muito ter grandes esperanças.
domingo, setembro 14, 2003
Rigor de (alguns) jornalistas
É o Expresso de ontem, que nos diz, em letras "gordas e encarnadas", que, cito, "Grande Lisboa concentra quase metade da população em 2015". Ficamos aterrados - como é que vamos meter este "rossio" nesta "betesga"? Metade dos portugueses a viverem aqui, a estacionarem aqui, a fazerem compras aqui... por outro lado, que inversão súbita, numa cidade que se dizia "em estado de desertificação"...
Apanhado o primeiro "susto", lê-se a notícia que, afinal, reza o seguinte:
"segundo as estimativas do estudo "Perspectivas da Urbanização do Mundo", da ONU, a Região de Lisboa e Vale do Tejo terá cerca de 45% da população portuguesa. Ah!
O "Lisboa", do título, absorveu a totalidade dos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal. Ah!. "Lisboa", afinal, segundo o Expresso, quer dizer Lourinhã ou Grândola, Coruche ou Santarém, Abrantes ou Cadaval, Chamusca ou Barreiro, Almada e Setúbal, Loures e Vila Franca de Xira, Cascais e Sintra. Torres Vedras e Torres Novas. Etc, etc, etc.
Sugiro ao Expresso um novo título: "No ano 2015, Portugal concentrará 100% da população residente em Portugal" - pode não ser muito informativo, mas pelo menos é mais rigoroso...
MC
Apanhado o primeiro "susto", lê-se a notícia que, afinal, reza o seguinte:
"segundo as estimativas do estudo "Perspectivas da Urbanização do Mundo", da ONU, a Região de Lisboa e Vale do Tejo terá cerca de 45% da população portuguesa. Ah!
O "Lisboa", do título, absorveu a totalidade dos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal. Ah!. "Lisboa", afinal, segundo o Expresso, quer dizer Lourinhã ou Grândola, Coruche ou Santarém, Abrantes ou Cadaval, Chamusca ou Barreiro, Almada e Setúbal, Loures e Vila Franca de Xira, Cascais e Sintra. Torres Vedras e Torres Novas. Etc, etc, etc.
Sugiro ao Expresso um novo título: "No ano 2015, Portugal concentrará 100% da população residente em Portugal" - pode não ser muito informativo, mas pelo menos é mais rigoroso...
MC
A pior das sensações
Será difícil haver pior, como sensação,
mesmo pensando em coisas como apertar a mão
a duzentos e trinta deputados,
quarenta ministros e outros tantos chefes de gabinete,
alguns tão caducos que escorrem verdete,
mais uma ronda de secretários e sub-secretários de Estado
e, ainda, todos os membos do Conselho Superior da Magistratura,
o Procurador-Geral
mais o Presidente do Tribunal Constitucional,
alguns democratas de agora que se reciclaram da ditadura
os causídicos do Palácio Raton,
o Senhor Cardeal (porque é de bom tom),
e pelo menos cem directores-gerais
e outros que tais...
e ainda os chefes dos Estados Maiores dos três ramos das Forças Armadas, porque não. Ah. Faltava o Presidente da República, Supremo Magistrado da Nação.
Mas, escrevia eu, há ainda pior do que cumprimentar toda esta gente
é, ter a sorte de ver vagar um táxi mesmo à nossa frente,
fazer-lhe sinal, deixar sair a pessoa do interior,
entrar
sentar
e... reparar
que o estofo está quente
do "sim-senhor"
do cliente
anterior.
Não, não, não!
Antes os dois mil e trinta e cinco apertos de mão!
MC
mesmo pensando em coisas como apertar a mão
a duzentos e trinta deputados,
quarenta ministros e outros tantos chefes de gabinete,
alguns tão caducos que escorrem verdete,
mais uma ronda de secretários e sub-secretários de Estado
e, ainda, todos os membos do Conselho Superior da Magistratura,
o Procurador-Geral
mais o Presidente do Tribunal Constitucional,
alguns democratas de agora que se reciclaram da ditadura
os causídicos do Palácio Raton,
o Senhor Cardeal (porque é de bom tom),
e pelo menos cem directores-gerais
e outros que tais...
e ainda os chefes dos Estados Maiores dos três ramos das Forças Armadas, porque não. Ah. Faltava o Presidente da República, Supremo Magistrado da Nação.
Mas, escrevia eu, há ainda pior do que cumprimentar toda esta gente
é, ter a sorte de ver vagar um táxi mesmo à nossa frente,
fazer-lhe sinal, deixar sair a pessoa do interior,
entrar
sentar
e... reparar
que o estofo está quente
do "sim-senhor"
do cliente
anterior.
Não, não, não!
Antes os dois mil e trinta e cinco apertos de mão!
MC
Tão utópicos como a liberdade
Tão utópicos como a liberdade, tão libertadores como a utopia, tão sensíveis como a meiguice e tão doces como o afecto. Criativos como Bach. Vigeland. Ou Klee. Esculturais como Rodin. Suaves. Ternos. Carinhosos. Tranquilos. Como um fim de tarde bucólico, num dia de Setembro.
1, 2, 3, 4, 5. Cinco filhos - em cada um, o verdadeiro significado da transcendência. Em cada um, a minha eternidade.
MC
1, 2, 3, 4, 5. Cinco filhos - em cada um, o verdadeiro significado da transcendência. Em cada um, a minha eternidade.
MC
Ora não é que ele até tem razão?!?
Diz o Público on-line: Paulo Portas considera que a Constituição tem que evoluir. Estou de acordo - de facto, isto de ser permitido constitucionalmente que indivíduos como o PP façam parte de governos merece, urgentemente, um updating da Lei Fundamental.
MC
MC
sexta-feira, setembro 12, 2003
E a batata grelou...
Os nossos cabelos são o cérebro que grelou. Assim as nossas opiniões e comentários possam tornar-se acessíveis aos bloguistas universais.
E ao verbo se acrescentou o sujeito e o predicado... e outras coisas mais.
Welcome, bienvenues, willkomen!
E ao verbo se acrescentou o sujeito e o predicado... e outras coisas mais.
Welcome, bienvenues, willkomen!
No princípio era o Verbo...
...mas como nem só de pão vive o homem, este rapidamente se pôs a semear batata, que aqui para nós é das melhores coisas que há. Isto ainda é tudo experimental, iniciático, inexperiente, etc, etc. Só mesmo para dizer que existimos.
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